Sem qualquer assunto para preencher o calendário das minhas publicações e já que ontem vos falei do "Cabrita", hoje, viro de bordo e vou falar do cabrito. Há muitas formas de cozinhar o cabrito e gosto de todas, Ia dizer que todas são boas, mas para quem não gosta dessa carne, nenhuma das formas de o cozinhar lhes serve. Gostos são gostos!
Para mim a melhor de todas é «À Padeiro». Tudo o que é preciso para elevar o nosso paladar à máxima potência é escolher um bom vinho para acompanhar o assado. Quando ia (muitas vezes) à Covilhã (em negócios) não falhava um «Cabrito de Churrasco» que encontrava sempre no meu restaurante preferido, o Tomás, no Canhoso. O pobre Tomás que eu conheci nos bons velhos tempos, quando a Indústria Têxtil se reergueu, passado que foi o período revolucionário que por pouco não rebentou com ela, já não pertence a este mundo, mas a sua filha continuou com o negócio e os amantes do cabrito continuam a entrar pela porta dentro todos os dias.
E as minhas recordações levam-me até Metangula, nos idos de 1964, quando um pelotão da CF2 foi para lá destacado para proteger o Posto de Rádio (nessa altura não passava disso) dos ataques da Frelimo. Numa terra do fim do mundo, onde não havia nada, a não ser o mais primário, coube aos fuzileiros a tarefa de construir um forno e cozer o pão para o pessoal da Marinha, meia dúzia de telegrafistas, outra meia dúzia para a tripulação da Lancha Castor e o nosso pelotão, um total de 45 almas, a contar com o comandante, a sua mulher e a criada Maria (que viria a casar com o Neves e iniciar aquele restaurante-bar que ficou conhecido de todas as tropas que por ali passaram). Um negócio da China que ficava com todo o pré da marujada e restante tropa.
Mas, voltando à vaca fria que é como quem diz, ao cabrito de que vos falava, para inaugurar aquele forno-maravilha, construido pelos meus dois amigos e filhos da escola Enteiriço (que Deus já lá tem) e Salvador Barbosa que, como não poderia deixar de ser, era de Valongo, a terra dos padeiros, escolhemos um belo cabrito que fomos comprar à Messumba. Não sei se foi pela fome que o pessoal passava ou pela ocasião especial que festejávamos, aquele foi o cabrito que mais bem me soube em toda a vida. E regado a cerveja, pois vinho era um luxo a que raramente tínhamos acesso.
Não me lembro quem comeu e quem ficou a ver navios, mas aqueles 6 ou 7 quilos de carne não davam para muita gente. Não me devo enganar muito se afirmar que aquilo se ficou pelo pessoal do «Rancho da Porca» e a nova equipa da Padaria, a que me juntei por amizade (auto-nomeei.me ajudante de padeiro, tinha a meu cargo organizar a lenha necessária para aquecer o forno). Mandámos o cozinheiro, um negro a quem chamávamos "Cabeça de Morteiro", levar uma perna ao comandante, de modo a poder contar com ele para as nossas excentricidades.
E por hoje é tudo, bom apetite!
Cabrito assado no forno isso era comida de fuzileiro. Comida de soldado do Exército, ao almoço era massa com feijão, ao jantar era feijão com massa e umas rodelas muito fininhas de chouriço. Sem direito a reclamações. Além de estarmos sujeitos a levar com uma bala na mioleira ainda eramos muito tratados. Só o que tínhamos com abundância era água do Lago Niassa para beber. Podíamos morrer afogados mas não com sede!
ResponderEliminarMais uma divertida história .
ResponderEliminarAbraço, saúde e boa semana.