quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Exagero, abuso ou desonestidade?

Nunca questionei a política salarial da empresa em que trabalhava quando me reformei. Sabia que alguns directores - vulgo, cães grandes - ganhavam muito mais do que oficialmente se sabia, mas nunca me deu isso grande preocupação. Aliás, falando em preocupações eu sei bem quem sofria com elas, pois tive a minha quota parte.
No ano em que me reformei, há cerca de 15 anos, o salário médio dos trabalhadores andava pelos 600€ e o meu era cerca de 10 vezes superior. Mas também a responsabilidade, as dores de cabeça e o stress aumentavam na mesma proporção. Por vezes, quando pensava nisso, doía-me um pouco a consciência, por saber que tanta gente tinha que dar ao pedal (literalmente, nas máquinas de costura) para pagar o meu salário.


Hoje, li na comunicação social que há em Portugal salários de gestores que atingem a cifra pornográfica de 160 vezes o salário mais baixo pago aos trabalhadores da mesma empresa. Partindo do princípio que o salário mais baixo é o SMN (salário mínimo nacional), esses gestores estão a levar para casa 160 salários mínimos, ao fim do mês. Qualquer coisa como 80 mil euros por mês ou 1 milhão e picos por ano.
Pensei que só no Brasil havia disso, mas depois de o BES dar o estouro e de saber das manigâncias levadas a cabo pelo Ricardo Salgado - estou a falar nos milhões que distribuía a torto e a direito, como quem atira milho aos pombos - já nada me admira. O caso bem conhecido do Mexia que, além do salário bem gordo que lhe pagavam todos os meses, ainda recebia milhões, no fim do ano, a título de prémio de desempenho. O bom desempenho dele era roubar os clientes da EDP para aumentar os lucros da empresa para onde "emigrou" depois de ter sido ministro.
Quando me lembro disto é que sinto, de facto, remorsos pelo mal-estar (remorso) que me invadia, sempre que me lembrava do salário das costureiras que, por mais que tivessem pedalado, nunca teriam evitado que a sua e minha empresa fosse à falência.
Ah, mundo cruel!

3 comentários:

  1. É por isso que precisamos de Esganiçadas & Siberius bem lá ao fundo da AR para reclamarem de vez em quando… infelizmente os gajos nem comunistas sabem ser.

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  2. Palavras para quê, isto é Portugal e todos os políticos me cheiram mal! Vejam mais logo o que fizeram com os donativos para Pedrogão, que os portugueses solidariamente contribuíram para que as casas de 1ª habitação tivessem a prioridade que ainda não tiveram.

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