O Valter foi, na Marinha, um dos meus amigos mais chegados. Andámos sempre juntos até ao meu regresso à Metrópole e ele ter decidido ficar em Moçambique como civil. Nunca soube o que foi a sua vida, em Lourenço Marques, enquanto lá viveu. O Barbosa era um amigo comum e também lá decidiu ficar, por causa de uma rapariga indiana por quem andava embeiçado. Acredito que foi ele a muleta que ajudou o Valter a entrar na vida civil, coisa completamente nova para ele, pois muito novo fora internado na "Fragata" e daí passou para a Marinha que abandonou, em Março de 1968.
Agora, ambos são já defuntos e não me adianta fazer conjecturas sobre o que terá sido a sua vida nesses anos, antes da independência de Moçambique, quando fizeram a mala e regressaram à terra que os viu nascer. O Valter era natural de Sines e para lá se dirigiram os dois amigos, já divorciados das mulheres que os tinham feito abandonar a Marinha para se casar com elas.
O Barbosa tinha começado a trabalhar como oculista, em Lourenço Marques, e foi no que se meteu, mal chegou a Sines. Ele abriu uma empresa e não sei se chegou a ter o Valter como empregado, o que sei é que passado algum tempo abriram, em sociedade, um restaurante para garantir um emprego e meios de vida ao Valter. Os dois amigos juntos como sócios de um negócio em que um era o sócio trabalhista e o outro, de cabeça mais assente, era o sócio capitalista. Eu juraria que o Barbosa nunca tirou rendimento daquele negócio, além da amizade eterna do Valter.
Este preâmbulo foi para vos colocar por dentro da nossa vida (do Barbosa, do Valter e minha) que após uma comissão de serviço em Moçambique, embarcámos no Infante D. Henrique para regressar à Escola de Fuzileiros e frequentarmos o curso que nos daria o direito de ser promovidos a "marinheiros" (éramos ainda grumetes) e entrar nos quadros permanentes da Armada.
Viajava connosco a avó Ruas, enfermeira reformada, que era de Sines e conhecia o Valter e a sua família, seus conterrâneos. Com a avó Ruas viajava também uma senhora - de ascendência indiana - e as suas duas filhas, ambas de menor idade. A mais velha dessas duas meninas tinha 16 anos e alguns meses e não passava pela cabeça da mãe deixá-la namorar, mas o amigo Valter deitou-lhe o olho e nunca mais a largou. Com a desculpa de passar o tempo com a avó, passavam o tempo a jogar canasta ou crapaud, ia-se encostando à rapariga tentando trazê-la para o seu terreno.
Ao fim de uns quantos dias de viagem, o Valter aproximou-se de mim segredando-me: - ela não gosta de mim e pelos seus comentários acho que ela gosta é de ti, por isso dá um passo em frente e faz-te ao bife. E lá fui eu ocupar o lugar dele na mesa da canasta e tirar a limpo o que ele me tinha dito sobre a Manuela, era esse o nome da jovem que, nascida em Lourenço Marques, vinha para Portugal para continuar aqui os seus estudos.
Na nossa viagem de regresso parámos em Luanda, depois nas Ilhas Canárias e também na Madeira e em cada uma destas paragens fui eu o cicerone, acompanhante, daquele grupo de senhoras e meninas que me viam como: para a avó eu era um neto querido, para a mãe um inimigo que lhe andava a desencaminhar a filha, para a irmã mais velha um primeiro teste à vida de namorada que ainda não conhecia e para a mais nova uma espécie de herói de quem nunca mais se queria separar.
Enfim, chegámos a Lisboa e cada um seguiu o seu destino. Eu fui para Vale de Zebro, onde passei os 6 meses seguintes, a avó para Sines, para junto dos seus familiares e a senhora mais as duas filhas para Aveiro, onde ficaram a viver, em casa de uma família amiga. Eu tinha trocado dois ou três beijos fugazes (envergonhados) com a Manuela e prometemos ficar a corresponder-nos, coisa que fizemos até eu a ter visitado, em vésperas de regressar a Moçambique.
A família com quem ficaram a morar era composta pela mãe, pelo seu marido e 3 filhas, sendo a mais velha, uma verdadeira fera de 18 anos de idade, filha de um casamento anterior da sua mãe. Nas nossas andanças por Aveiro, ela apresentou-me o seu namorado (o Chico) e percebi logo que ele era do tipo capacho que ela gostava de espezinhar a cada passo.
Percebi que ela tinha engraçado comigo e decidido roubar-me à amiga vinda de Lourença Marques. Não me consigo meter na cabeça de uma rapariga de 18 anos, mas parece-me que o fez por puro espírito de competição, para provar que era melhor que a outra que não passava de uma criança sem experiência e lhe conseguia roubar o namorado. Passei uns momentos engraçados com aquelas miúdas, a irmã mais nova agarrava-se ao meu braço e não me deixava ir para lado nenhum, enquanto a amiga fazia os possíveis por não deixar a Manuela aproximar-se de mim.
Fiquei a corresponder-me com a Manuela e a frequentar a casa da avó Ruas, em Lourenço Marques, para onde ela voltou depois das merecidas férias na Metrópole. Fui sempre sabendo notícias das irmãs Santos (era esse o apelido da Manuela) e da família que as acolhia, em Aveiro. Não tinha qualquer futuro aquele nosso namoro, mas a avó perguntava-me sempre: - então, como vai o romance com a Nela?
Não foi a lado nenhum, como era de prever. Quando regressei à Metrópole, comprei uma bela mota (uma BSA de 250 Cm3) e um dia meti-me a caminho de Aveiro para visitar aquela gente. A mãe da Manuela fuzilava-me com os olhos, uma vez que a filha, agora com 19 anos, podia roer a corda e fugir do seu controlo. Mas a filha que tinha no seu curso a primeira e maior prioridade não deu muito gás ao nosso namoro.
E foi a última vez que a vi. Quem voltei a encontrar, em circunstâncias muito especiais, foi a fera da sua amiga que era cabeleireira de profissão e viera trabalhar para o Porto. Mas isso é uma outra história e bem escabrosa que não sei se algum dia terei a coragem necessária para a contar nas minhas memórias.
Hoje dia triste : Ventura impossibilitado de continuar a campanha e o criminoso de Moscovo deu a compreender que e uma Puta medrosa .
ResponderEliminarNamoradas à parte; pela 1ª vez estou de acordo com o despropósito do Quelfes!!! :))
ResponderEliminarMemórias da juventude indicam saúde cognitiva. Excelente narrativa.
ResponderEliminarÉS um bom contador de histórias!
ResponderEliminarBeijos e um bom dia