O Pedro Coimbra, na sua última publicação (ver aqui) trouxe-me à memória aquilo que aflige a terceira idade e afectou de forma marcante a ala feminina da minha família. A avó da minha mãe sucumbiu por completo à doença de Alzheimer antes dos 80 anos de idade. Era motivo de chacota, lá na aldeia, pois fugia de casa em trajes menores e tinha que ser levada a casa da filha e neta com quem vivia por algum vizinho com quem se cruzava. Segundo dizem, não reconhecia ninguém e detestava receber ordens da filha a quem não reconhecia como tal.
A filha dela - e mãe da minha mãe - foi afectada por uma outra doença má, pouco depois dos 60 anos e não tendo passado dos 80 não se lhe notou o Alzheimer. O cancro da mama que a levou deste mundo evoluiu para fora do corpo e era uma ferida de meter medo. Os seus últimos anos de vida foi só sofrer, gemer e rezar a todos os santos que a levassem depressa.
A minha mãe viveu mais que as suas parentes mais directas, chegou aos 94 anos de idade. E, não sei se devido à idade ou dos desgostos da vida, incluindo a sua viuvez aos 88 anos de idade, quando passou a barreira dos 90 entregou-se por completo à mesma doença da sua avó. Não reconhecia ninguém e sofria muito, dizia ela, por estar a viver entre gente estranha. Ela só recordava coisas da sua vida de solteira, de antes dos seus 20 anos de idade.
Eu que era para ela um estranho entabulava com ela grandes conversas sobre esse período da sua vida, que conhecia de ouvir falar, e ela embarcava nesse diálogo sem qualquer tipo de reserva. De vez em quando, deitava-me uma olhadela estranha como se estivesse a pensar:
- De onde conheço eu esta cara? E como conhece tantas coisas da minha vida?
Faziam chacota, não seria com maldade, mas sim, seria por desconhecerem a doença. Era um atraso de vida messe tempo. As pessoas sofriam, morriam muitas das vezes por falta de assistência. Infelizmente, ainda hoje isso acontece, mais por desmazelo, do que por falta de meios, tanto humanos como materiais! Penso eu...
ResponderEliminar