Espicaçado pela fome, o lobo teve ímpeto de atirar-se a ele. A prudência, entretanto, cochichou-lhe ao ouvido : - “Cuidado! Quem se mete a lutar com um cão desses pode sair a perder”.
O lobo aproximou-se do cão com toda a cautela e disse :
- Bravo! Palavra de honra que nunca vi um cão mais gordo nem mais forte. Que pernas rijas, que pelo macio ! Vê-se que o amigo se trata !
- É verdade ! – respondeu o cão. Confesso que tenho tratamento de fidalgo. Mas, amigo lobo, suponho que podes levar a mesma boa vida que eu levo.
- Como ?
- Basta que abandones esse viver errante, esses hábitos selvagens e te civilizes, como eu.
- Explica-me lá isso por miúdos, pediu o lobo com um brilho de esperança nos olhos.
- É fácil. Eu apresento-te ao meu dono e se ele simpatizar contigo dá-te o mesmo tratamento que me dá a mim, bons ossos de galinha, nacos de carne, um canil com palha macia. Além disso, agrados, mimos a toda hora, palmadas amigas e um nome.
- Aceito ! – respondeu o lobo. Quem não deixaria uma vida miserável como a minha por uma de regalos como a tua ?
- Em troca disso – continuou o cão – tu guardarás a casa, não deixando entrar ladrões nem vagabundos. Agradarás ao dono e à sua família, abanando o rabo e lambendo a mão de todos.
- Está combinado, resolveu o lobo – e dito isto emparelhou com o cão que partiu a caminho de casa. Logo, porém, notou que o cão usava uma coleira ao pescoço.
- Que diabo é isso que tens no pescoço ?
- É a coleira.
- E para que serve?
- Para me prenderem à corrente.
- Então não és livre de andares por onde queres, como eu?
- Nem sempre. Passo às vezes vários dias preso, conforme a disposição do meu dono. Mas que importa isso se a comida é boa e vem sempre à hora certa?
Ouvindo isto o lobo parou, reflectiu e disse :
- Sabes que mais ? Adeusinho ! Prefiro viver magro e cheio de fome, mas livre e dono do meu focinho, a viver gordo e luzidio como tu, mas de coleira ao pescoço. Fica-te lá com a tua gordura de escravo que eu contento-me com a minha magreza de lobo livre.
Uma grande lição de moral. Gostei.
ResponderEliminarUm belíssimo texto.
ResponderEliminarUm abraço
Dos homens diferente,
ResponderEliminarpensa o lobo e o cão
eu gostei certamente
de ter lido essa lição!
O cão de pêlo luzidio,
com a coleira no pescoço
magro na serra ou no poisio
em liberdade preferia o lobo!
Enquanto o cão não se importava,
ideias diferentes tinha-as o lobo
não sendo livre, fome não passava
até tinha o privilégio de roer um asso!
Mas que grande lição tu acabas de dar a Bruxelas!
ResponderEliminarBem escolhida para o 25 de abril de 2017.