terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Não comer o que não se conhece!

Para vos contar uma história de hoje, vou recuar uns milhões de anos, até ao Paleolítico Superior, altura em que nem sequer o fogo tinha sido ainda descoberto. O «Homo Sapiens» vivia em pequenas comunidades de 20 a 30 pessoas e para se alimentar recorria à caça, à pesca e à colheita de tudo aquilo que a mãe-natureza punha à sua disposição começando pelos frutos. E usava utensílios feitos de pedra lascada, osso ou madeira que eram os únicos que conseguia trabalhar.


Da caça e pesca não vos vou falar, pois todos as conhecem e se não fosse pelas armas de fogo pouco teriam evoluído até hoje. Vou concentrar-me naquilo que consistia em cerca de 80% da alimentação das gentes desse tempo, a recolecção. Recolecção era o acto de recolher tudo aquilo que pudesse servir-lhes de alimento. E aqui começa o problema. Como poderiam saber aquilo que era comestível e o que os poderia matar por envenenamento? Os conhecimentos eram transmitidos de geração em geração e cada comunidade tinha uma espécie de feiticeiro, ou curandeiro, que era o maior especialista na matéria. Mas esse concentrava o seu interesse nas plantas que podiam curar doenças ou sarar feridas e não tanto no que se podia comer ou não.
Para solucionar esse problema cada comunidade tinha uma ou mais provadoras (só as mulheres desempenhavam este tarefa) para testar cada novo fruto ou folha com que se deparassem nas suas deambulações, pois como nómadas que eram não paravam muito tempo no mesmo lugar. A provadora testava o sabor e se este fosse agradável tinha que comer uma certa quantidade e durante alguns dias. Se ao fim desse teste não tivesse morrido, ou sofrido de grande mal-estar, o alimento recebia um nome e estava aprovado.
Já estão a ver o filme, não é? A provadora a mastigar e todas as mulheres e crianças à volta dela para ver quando caía para o lado a espernear com dores de estômago. Os homens nunca estavam por perto, pois andavam ocupados em caçadas que por vezes demoravam muitos dias. E quando caçavam um animal de grande porte, em vez de o carregarem até ao lugar onde se abrigavam, mudavam toda a comunidade de sítio até terem comido ou tratado de toda a carne, as peles e os ossos, pois tudo tinha a sua serventia. Secar ou defumar eram os meios de conservação ao seu dispor e nisso ocupavam a maior parte do seu tempo. Uma autêntica pasmaceira, como se adivinha.


Depois desta pequena lição de antropologia, deixem-me trazê-los de volta à realidade dos nossos dias. Hoje em dia, não há provadoras que corram riscos para nos salvar a pele e se quisermos provar alguma coisa de novo, terá que ser por nossa conta e risco. Pois foi isso que aconteceu comigo, há alguns dias.
No meio da minha horta nasceu uma planta muito bonita cheia de bolinhas vermelhas (quando maduras), em tudo semelhantes a uma que já tive e que dava piri-piris. E u tinha quase a certeza que não era a tal dos frutos picantes, mas ... para ter a certeza absoluta tinha que trincar uma daquelas bolinhas. Tinha que ser eu o provador de serviço, imitando as muitas desgraçadas da Pré-História que devem ter pago com a vida a sua temerária profissão.
E, como estou aqui, bem disposto da vida, a contar-vos a história é porque não morri. Prova superada com sucesso. Mas faltava-me saber o nome da tal planta que, por artes de magia, veio nascer na minha horta. Perguntei a muita gente, procurei na internet e tudo sem resultado. Mas como sou «um cara que nunca desiste» voltei a pesquisar na net, usando combinações de palavras diversas para me guiar e acabei por descobrir. Acreditam que se chama "cerejeira de Jerusalém"? Pois é! E o seu nome científico é «Solanum Pseudocapsicum» para quem estiver interessado. E podem mandá-las vir da China se quiserem, como podem ver pelo anúncio abaixo.


E encontrei o que procurava numa lista de plantas venenosas para porcos. Deve ter sido por isso que não morri, eu não sou porco nem nada que se pareça!

3 comentários:

  1. Vê só o que as aves migratórias conseguem fazer!
    Ampliei a tua foto e abri os olhos quanto eles puderam alcançar e tenho a impressão que isso são arbustos bravos que pelo Natal se metem em vasos para enfeitar, vou-te enviar uma foto das que tenho aqui, para tirarmos dúvidas, se ainda estiveres vivo!

    ResponderEliminar
  2. Essa planta nasceu duma semente. Já investigaste como é que ela, semente, terá sido transportada de Jerusalém, para a tua horta? Deve ter sido algum melro, que a trouxe no papo, e a deixou cair, quando foi aí às tuas figueiras comer os figos.

    Gostei dessa lição de história,
    como se vivia no antigamente
    nasceu uma planta na tua horta
    sem teres semeado a semente!

    ResponderEliminar
  3. Ora bem, só o amigo para me fazer rir agora. Com que então, venenosas para porcos.
    Bom eu estou com o nosso amigo Querido. Quando morávamos na Seca, a minha mãe tinha uma planta cujas bolinhas eram muito parecidas com essas que usava na decoração de Natal. Não sei se seria a mesma coisa, já lá vão quase quarenta anos que deixaram o quintal.
    Um abraço

    ResponderEliminar