Estava aqui a olhar para a foto de capa deste blog e veio-me à lembrança o livro que tornou famoso o Adolfo Rocha, mais conhecido pelo pseudónimo de Miguel Torga, os Contos da Montanha. Contos simples de gente simples, como ainda hoje vive naquele recanto transmontano.
Nunca tinha ido a Galafura, onde há um miradouro, como não há outro no mundo. E sabem porquê? Porque de lá de cima se mira mesmo o Douro, esse rio que é nosso e não corre em mais nenhum canto da Terra. Marcaram para esse local um almoço de confraternização para todos os estudantes que passaram por Cernache, o colégio dos Jesuítas onde vivi como aluno interno, durante 4 anos.
Foi nesse miradouro que o Torga se sentou muitas vezes deixando os olhos vaguear sobre as montanhas e o rio que vem serpenteando de Espanha a caminho da Foz, onde se junta ao oceano Atlântico. E dessa visão, para além da convivência com os seus conterrâneos, nasceu a inspiração que o fez escrever esse livro que mal viu a luz do dia foi apreendido pela PIDE que o trazia debaixo de olho.
Pareceu-me bem lembrar este episódio, na data em que se comemora (também) o fim dessa polícia política de tão más memórias. Teimoso como era o nosso escritor, voltou a publicá-lo no Brasil e fez com que circulasse clandestinamente, durante o "reinado" de Salazar. E logo que o Marcelo Caetano tomou conta da cadeira do poder, em 1968, voltou a publicá-lo, em Portugal.
Um livro que possuo há muitos anos, que leio e releio inúmeras vezes, e do qual já transcrevi alguns Contos para o meu Cantinho.
ResponderEliminarBom fim de semana.
PS - O seu pseudónimo: Miguel Torga, foi uma homenagem que o médico/poeta/dramaturgo escolheu em honra de Miguel Unamuno e a uma urze da paisagem árida transmontana, de seu nome: torga.