Só fui uma vez a Amsterdão! Há muitos anos atrás! No tempo em que a bicicleta (por lá assim como por cá) era mais usada que o automóvel!
No ano de 1971, depois de uma curta experiência na emigração, entrei num multinacional fábrica de confecções que empregava cerca de 300 pessoas, a maioria mulheres. E essas mulheres, pelo menos as que moravam a mais de 1 Km da fábrica, apareciam montadas numa bicicleta, tal e qual como as holandesas de Amsterdão que eu vi a pedalar pelas ruas que ladeiam s canais de Amsterdão, quando lá fui numa excursão turística organizada pelos vidreiros da Marinha Grande que se tinham juntado todos na cidade, onde eu morava e em que existia uma das maiores fábricas de vidro da República Federal da Alemanha.
Nessa empresa a que me juntei, havia apenas 4 automóveis. O primeiro e mais valioso era o do diretor geral, o segundo pertencia ao director comercial, o terceiro ao nosso contabilista e o quarto ao chefe dos mecânicos. Isto sem falar numa velha carrinha Morris que servia para o dia-a-dia do nosso armazém. Nos anos seguintes, a coisa começou a mexer e ao chegar ao 25 de Abril já entravam pelo portão adentro mais de uma dúzia de carros, incluindo o meu, um humilde Fiat 850 Sport que não durou mais de um ano nas minhas mãos.
As bicicletas foram rapidamente substituídas por motoretas e levavam e traziam as raparigas (costureiras) para o trabalho muito mais rápido que as bicicletas em que era preciso pedalar com vontade, senão não saíam do sítio. Muitas delas vinham de uma aldeia que ficava a cerca de 5 Kms, num ponto bastante elevado, de manhã era uma alegria, sempre a descer, mas à noite, quando voltavam a casa era sempre a subir e não havia pernas que aguentassem. Era comum vê-las subir aquela infindável rampa a pé e empurrando a bicicleta que, no dia seguinte, as voltaria a carregar para o trabalho quase sem necessidade de pedalar.
Mas, voltando a Amsterdão que foi a razão que aqui me trouxe, a coisa que mais me espantou, a mim e tosos os outros operários a trabalhar na cidade alemã onde eu também morava, foi a catrefada de bicicletas encostadas às paredes de todas as ruas por onde andei. Umas já avariadas, sem pedais, rodas ou pneus, mas muitas delas funcionando de modo a servirem para o efeito que lhe dera origem. Cada um deitava a mão à que estivesse mais a jeito, pedalava até ao destino, encostava a "burra" à parede e ali a deixava, à espera que outro cliente lhe desse um novo destino.
Elas não pertenciam a ninguém, mas serviam a todos de igual modo. Era um tempo em que havia muitos hippies a viver em velhos batelões, nos canais da cidade, e se deslocavam sempre de bicicleta. Segundo me contaram, eles saíam numa e regressavam noutra, presumo que em melhor estado, e não era raro pegarem em duas avariadas e delas fazerem uma em bom estado para lhes servir de meio de transporte nas suas deslocações.
E porque raio me fui eu lembrar disto, perguntarão vocês? A resposta é meio complexa e tem a ver com o Trump, esse cromo que está a deixar meio mundo maluco. Já aqui tenho dito que tenho as minhas poupanças espalhadas por aí a ver se rendem um pouco mais que nos nossos bancos que ganham milhões, mas não me dão nada desses ganhos. Comecei na Bolsa de Lisboa, depois mudei-me para Amsterdão e Paris, apostei forte em Madrid e até dei um salto a Milão ver se as coisas me sorriam para lá dos Alpes.
Mais acomodado a Paris e Madrid, abandonei por completo o mercado dos Países Baixos (agora é proibido dizer Holanda). E aí aparece o Trump a pôr tudo em alvoroço. A Bolsa de Nova Iorque deu um trambolhão que só visto e as outras abanaram como se mergulhadas num grande vendaval. Eu, como muitos outros, vi a minha "carteira" encolher e nem quero pensar no mercado dos Fundos de Investimento que são geridos por terceiros e nem sempre da melhor maneira. Cerca de 50% das minas economias estão aí e o mais provável é que demorem mais de um ano (se correr bem) a recuperar das perdas.
Ontem despedi-me de Paris e cortei para metade os meus interesses em Madrid. E, como nesta coisa dos investimentos em Bolsa, não posso ficar parado, voltei para a terra das bicicletas e dos charros fumados em qualquer boteco, sem objecção da "bófia", Amsterdão, onde espero recuperar alguns euros dos que perdi. Mas nem tudo são perdas, na semana passada, por causa dos altos e baixos provocados pelo Trump, amealhei cerca de dois mil euros de ganhos!
Gostei do texto e jamais em tempo algum pôr o pouquechinho que tenho de lado a render.
ResponderEliminarFiz através do grupo desportivo do meu trabalho uma excurção Amsterdão . O hotel ficava em frente da estação dos comboios e do quarto vi que as bicicletas eram aos milhares todas devidamente arrumadas e nem sei como as reconheciam . Há noite ficava uma ou outra. Na altura a bicicleta tinha prioridade sobre o automóvel. Hoje não sei!
Beijos e um bom dia
Errata: excursão
ResponderEliminarSem precisarmos ir tão longe, temos por cá a cidade de Aveiro que, por ser plana, é considerada a localidade onde as pessoas se deslocam mais de bicicleta.
ResponderEliminarSanta Páscoa, para si e os seus, Tintinaine.
Boas recordações de Amsterdam - o segundo Red Light District que conheci. Há porém uma outra cidade na Holanda que me marcou para o resto da minha vida - Rotterdam - onde apanhei o antigo SS America que me levou o mais longe possível do socialismo implantado em Portugal. Os discursos do Vasco Gonçalves deram-me uma ideia do que vinha a seguir... Uma Boa Pascoa!
ResponderEliminar