Estamos na Semana Santa e é preciso preparar o folar para dar aos afilhados!
Seja aquilo que for, pode até ser uma nota de 50, chama-se sempre folar àquilo que os padrinhos - aqui faço um parêntesis para dizer que o F. Louçã é um parvo por ter introduzido no nosso país o costume de dizer "as madrinhas e os padrinhos", em vez do termo aglutinador e correcto que é "padrinhos" - oferecem aos seus afilhados pela Páscoa.
Mas não é desse folar que vos quero falar hoje. Por razões que não são para aqui chamadas, fui a Valpaços muitas vezes nos últimos 10 anos. E descobri que o folar mais famoso é feito numa padaria que fica a meia dúzia de quilómetros de Valpaços, para quem vai de Vila Pouca para cima (sim porque sobe muito!).
Não é mais que uma «Bôla de Carne» com que eu tinha travado conhecimento em Cernache - Coimbra, quando andava no Colégio. Tinha um colega transmontano, de Mirandela, que de vez em quando recebia uma "encomenda" enviada pelos seus pais. Preocupados que ele pudesse passar fome, ou não apreciar o tempero do nosso cozinheiro, eles enviavam-lhe as viandas da sua terra para que ele se retemperasse.
Com muita mais carne do que contêm os hodiernos folares de Valpaços, devo confessar, essa encomenda do meu colega e amigo Daniel era devorada com o maior prazer e ainda maior rapidez, quando ele mal se contornava estava o pacote vazio. Numa das vezes que lá passei e vi a publicidade feita ao folar, perguntei o preço e fiquei abismado pela enormidade. Por esse preço quase compro um porco inteiro!
Mas quero recuar mais uns anos na minha memória sobre Valpaços. Quando me comecei a dedicar à procura dos camaradas fuzileiros que constituíam a CF2, unidade militar que foi enviada para Moçambique, em 1962, antes ainda de começar a Guerra Colonial naquela Província Ultramarina, um dos amigos mais chegados, transmontano também, perguntou-me se eu não tinha notícias de um certo camarada que fez a recruta connosco e pertencia ao seu pelotão.
Não, disse-lhe eu, esse não pertencia à CF2 e eu só quero localizar os camaradas da nossa Companhia. Gostaria tanto de saber o que foi feito dele, voltou ele a insistir. Logo que comecei a andar por Valpaços, por volta de 2010, lembrei-me dessa história e sabendo que ele era de Valpaços, resolvi investigar. Sabia o nome dele completo, o ano em que nascera e que era de Valpaços, a algum lado haveria de chegar.
Depressa soube que ele tinha emigrado para França e em menos tempo que isso, que morrera recentemente. Aconselharam-me a ir ao cemitério falar com o coveiro que ele, com toda a certeza, me saberia contar tudo o que havia acerca desse assunto. E foi o que eu fiz. E lá me contaram a história toda e que o cadáver tinha viajado para França, pois a sua descendência ficara lá e lá o queriam também.
E para rematar, o coveiro disse-me que ele quando morreu (de enfarte) vivia com uma senhora de Argeriz (nada de maus pensamentos, pois o rapaz era viúvo) que morava pertinho da Padaria Moutinho, a mais que famosa produtora do Folar da Páscoa, conhecido em Portugal e no estrangeiro (por causa da emigração). Respondi-lhe que não valia a pena falar com ela, pois o que me interessava era saber do destino do referido camarada e uma vez ele morto cessava o meu interesse.
Ainda assim, nesse dia, na viagem de regresso em que passaria em frente a essa padaria, decidi parar, tomar um café e perguntar se conheciam a tal senhora. Disseram-me que sim e que fora uma tristeza o que se passara com ela, vivia tão feliz com o seu namorado e tão pouco tempo durara essa felicidade!
Histórias bem portuguesas, histórias só nossas... Acabo de saber que temos quase 2 milhões de imigrantes sendo que a verdadeira figura ninguém sabe. Mais uma vez a nossa Pátria está em perigo e não é percepção nenhuma é uma realidade escondida.
ResponderEliminarDois milhões, 400 mil dos quais ainda por regularizar e não quer dizer que todos fiquem, mas há muita gente a rezar por isso!
Eliminar