segunda-feira, 28 de abril de 2025

Moçambique!

 

Edifício do Comando do nosso aquartelamento

Numa atribulada viagem de avião que demorou 18 dias a levar-nos ao Aquartelamento da Machava - foram precisas 4 viagens para levar um pelotão de cada vez com as suas armas e bagagens, eu segui na 3ª leva que partiu do aeroporto de Figo Maduro em 2 de Novembro - com paragem em Bissau, em Luanda, na Beira e finalmente Lourenço Marques, a cidade das acácias.

Em Luanda, fomos forçados a esperar 17 dias para que o avião fosse reparado que aquilo era um cangalho velho dos tempos da II Grande Guerra fartava-se de tossir e espirrar em cada viagem. Uma peça para o motor que demorou a chegar e nós armados em turistas na Base Naval (Ilha da Floresta) em regime de cama e mesa farta. Talvez pudesse jurar que foram as melhores duas semanas de todo o meu tempo de Marinha.

Já era noite quando partimos da Beira e muito mais escuro quando aterrámos no aeroporto de Lourenço Marques, pelo que não vimos nada da cidade que pensávamos ser o nosso destino. Subimos a Av. de Angola, até ao Alto Maé, virámos à direita para a Av. do Trabalho e seguimos por ali fora até à Missão de S. José, onde virámos outra vez à direita, a caminho do Jardim Zoológico, onde virámos à esquerda e seguimos por uma estrada estreitinha até ao desvio que nos levou até ao portão do aquartelamento que fora construido a propósito para nos receber.

Nós fomos a primeira força apeada da Marinha, em terras moçambicanas e para nos acomodar foi construído um apêndice à já existente Estação Radionaval da Machava que tinha uma guarnição de 20 a 30 homens, a maioria telegrafistas. A nossa Companhia veio acrescentar 150 homens a essa pequena força com a missão de guardar as instalações e protegê-las de um inimigo que estava a acordar.

Só 20 meses mais tarde se ouviram os primeiros tiros dados pelos mal treinados turras da Frelimo. E nessa ocasião meteram-me num avião da FAP e recambiaram-me para o Niassa para dar protecção ao Posto de Rádio que ali funcionava. Esse posto de rádio era uma coisa mais antiga, mas no ano de 1963 a Marinha decidiu construir a Base Naval de Metangula já com condições para acomodar uma força considerável. E também deslocar para ali uma Lancha de Fiscalização Pequena (LFP), além de uma baleeira para apoio do pessoal de terra.

Foi contra essa lancha que foram disparadas as primeiras rajadas da Frelimo, mas não havia ninguém a bordo, pois a tripulação, uma vez a lancha acostada ao cais, subia a ladeira que os levava às suas instalações, onde ainda dormiam quando soaram os tiros. Os telegrafistas entraram logo de prontidão para comunicar com o Comando naval da capital e dar parte do ocorrido. No dia seguinte, à noitinha, já lá estávamos nós de armas na mão para o que desse e viesse.

A Castor no plano inclinado

2 comentários:

  1. Ainda bem que acabou essa guerra malvada! Em Luanda havia perto do estádio dos coqueiros uma um salão não me lembro do nome onde ao fim de semana faziam bailes e ia imenso pessoal da marinha muito peneirentos e convencidos ao invés soldados. Por vezes terminavam à pancadaria e porquê? Porque muitos raparigas não gostavam das suas atitudes incluindo eu que dava tampas a todos:)))))
    Beijos e um bom dia!

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    1. Bons tempos esses dos bailes e das tampas! A juventude é tudo!

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