Já não me lembro muito bem da toponímia de Lisboa e tenho dificuldade em reconhecê-la nestes prédios altos e desempoeirados que a imagem mostra. No canto inferior direito da imagem vê-se um pouco do edifício, onde ficava a «Casa do Marujo* e a porta de entrada ficava muito próxima desta esquina. Em frente, começa uma pequena rua por onde iniciávamos a romaria ao Bairro Alto.
A primeira casa com nome na praça era na rua do Ferrugial, se bem me lembro era no Nº 13. Ao regressar pelo mesmo caminho, quase a chegar à Rua do Arsenal, havia uma tasca que tinha sempre uns jaquinzinhos de escabeche ou sandes de couratos para matar a fome, antes de ir para a cama, a quem já tinha jantado às 17.30 horas. O jantar tinha que ser servido muito cedo por causa das licenças - formatura, distribuição dos catões de identidade, revista e embarque no autocarro - em que muitos desarranchados ainda iam levar as viandas a casa para a mãe, irmã ou esposa cozinhar o jantar que seria comido lá para as 20.00 horas.
Com a barriga a dar horas e a carteira cheia de ar não era grande programa andar a passear por Lisboa, mas a juventude aguenta com tudo. Nos dias mais compridos de verão, ainda dava tempo de ir até ao Jardim do Campo Grande namorar as sopeiras. À noite, em alternativa ao Bairro Alto, se houvesse cinco coroas no bolso dava para uma sessão no Piolho, Arco Bandeira e outros que tal.
A vida de marujo era assim, infelizmente, não durou muito, pois a Guerra do Ultramar chamava por nós. No ano de 65, voltei a passar seis meses na Metrópole, de Abril a Outubro e foi como uma repetição do que tinha vivido, três anos antes, mas já sem as meninas do Bairro Alto para alegrar a malta. Por troca havia os bares, em que todos éramos clientes e onde se podia discutir o negócio. É um pintor, por menos disso não vou! Pintor era o nome dado à nota de 100$00 por ter uma cor alaranjada.
Ah, belos (velhos) tempos que não voltam mais!!!
Excelente post, amigo. Está bem diferente também daquela que conheci e onde vivi de 64 a meio de 69.
ResponderEliminarAbraço , saúde.
Pois, também não sei... Vai ver ficou lá atrás, juntamente com o Tintinaine de há sessenta anos.
ResponderEliminarOnde está Lisboa do meu tempo?! Uma pergunta que faço a mim mesmo cada vez desembarco na Portela. Neste momento Lisboa é 'uma cidade prostituta' chulada pela CML/governo e o turismo uma fraude: o turista consome o tuk-tuk como transporte típico e comida a martelo como se fosse genuína. Até os guias nem português falam... Os Bairros antigos com as politicas socialistas de portas abertas já perderam completamente a sua identidade. Se a Maria Severa Onofriana passasse hoje nas ruelas da Mouraria dáva-lhe um valente xelique ao saber que 'o sotaque português rufia e vadio' já foi substítuido pelo bengali. Um desastre cultural com a assinatura do partido socialista.
ResponderEliminarOlá amigo!
ResponderEliminarAqui está a paulista,
O que são jaquinzinhos, couratas e viandas?
Deve ser de comer.
Me deixou com fome no meio da madrugada,
Eucide-me, por favor.
Agradecida
Tudo comidinha da boa, à antiga portuguesa! Não havia dinheiro para comer carne ou mariscos e até os peixes só dava para os mais baratos, as sardinhas e os carapaus (jaquinzinhos são os que foram apanhados antes de crescer). Courato é a parte de fora do toucinho que os talhos por vezes cortavam e vendiam separado e por pouco dinheiro. A palavra viandas corresponde a comestíveis, em geral. Bom apetite!!!
EliminarA paulista é capaz de não compreender 'talho' - mas talvez 'açougue'. Hoje devia ser dia de folga.
EliminarParabéns por seu aniversário.
EliminarEntão tá!
talho: acougue
jaquinzinhos: peixe que não cresceu tudo o que podia
courato; acho que é o que chamamos de torresmo
viandas:comida, tudo o que se come.
Agradecida pelos esclarecimentos.
Mais uma vez feliz aniversário.
elucide-me, desculpe-me
ResponderEliminarSuponho que hoje o almoço não será de jaquinzinhos. Vim deixar um abraço e desejar que o novo ano que hoje começa seja bem passado e sem problemas de saúde. Parabéns.
ResponderEliminarAbraço