Esta semana estive numa reunião de família em que se falou no pombal que o meu pai construiu na casa onde nasci, para criar pombos. Pombos e pombas e pombinhos também. Depois a conversa descambou para o «Zé da Amélia» que era um vizinho nosso e ainda parente afastado da minha mãe. Quem não gostava nada dele era o meu pai que o acusava de lhe roubar as pombas.
O meu pai tinha muitas pombas que faziam criação e poucos pombos, pois estes tinham pouca serventia. A selecção era feita, quando eram ainda borrachos, as fêmeas ficavam, os machos iam para a panela do arroz ou eram vendidos. Uma forma fácil de gerir o negócio.
O Zé da Amélia funcionava de forma diferente, não fazia criação, ou se fazia era por acidente, livrava-se das pombas e ficava com os machos apenas. Ele tinha aprendido que as pombas, na época da postura, seguem o macho e ficam com ele até acabar a postura e criação dos borrachos. Esse pormenor da natureza fazia as pombas do meu pai irem criar os filhos na casa do vizinho que comia os borrachos e mantinha a pomba presa no seu pombal para evitar que ela regressasse a casa.
Isso para o meu pai era um roubo descarado e um dia foi a casa da Tia Amélia e exigiu revistar o pombal para ver se alguma das pombas que lá encontrasse era sua. E vendo que tinha razão forçou o Zé a manter a porta do pombal aberta até todas as pombas saírem para dar uma volta. Com alguma sorte, algumas iriam dormir no seu pombal, assim que o sol se pusesse.
Recordei esta história ao ver uma foto de Beirute, onde uma bomba judia atirou um prédio abaixo, e outra de Valência com pessoas presas nos andares superiores, enquanto as caves e rés-do-chão estavam debaixo de água. As pessoas, hoje, vivem como as pombas do meu pai, encasteladas umas em cima das outras, por falta de espaço.
A casa onde nasci era pequena e quanto mais a família crescia, ao ritmo de um novo filho a cada 20 meses, mais pequena se tornava. Eu dormia com um irmão num pequeno quarto construído na varanda, fora das paredes de granito da casa, propriamente dita, com 2,5 mts de comprimento e 1,5 mts de largura. Por baixo desse quarto era o galinheiro (que tal e qual como o pombal fornecia a cozinha da minha avó Maria) que o meu pai, habilidosamente, dividiu em dois, reservando o rés-de-chão para as galinhas e o 1º andar para as pombas.
Tal e qual como fazem os engenheiros levantando prédios cada vez mais altos, em que vão encastelando as pessoas, como o meu pai fazia com as aves. O céu é o limite, pensam eles, e enquanto as autarquias permitirem subir, eles aproveitam, pois o terreno, onde plantaram a cave e o rés-do-chão, já foi pago.
Um dia pernoitei numa cidadezinha, nos arredores de Manchester, e perguntei a um morador porque é que as casas estavam tão longe umas das outras. Se alguém gritasse por socorro ninguém ouviria, pensei eu. A resposta surpreendeu-me, mas agora entendo-a bem. É para as pessoas terem espaço e não viverem umas em cima das outras, disseram-me. Cada lote de terreno tinha que ter, pelo menos, 50 metros de frente para a rua e, assim, um espaço de +/- 40 metros entre casas.
Se o Rúben Amorim ler esta minha publicação ainda vai à procura desse local para viver em paz, na terra que escolheu para morar nos próximos anos e que os Red Devils esperam que sejam muitos e com enorme sucesso. De futebol estamos falados, ontem a nossa selecção ganhou por 5 a 1 aos polacos de Lewandovsky & C.ia!!!
Quando era miúdo pensava que a 'Baixa Pombalina' era assim chamada por causa dos pombos... enganei-me!
ResponderEliminarBom dia
ResponderEliminarSempre com a sua característica muito própria de abordar os assuntos .
JR