Quentinhas e boas!

 O Fonseca era o grumete mais marreta da CF8, ou seja, entre os cerca de 150 militares que a compunham ele tinha sempre a última palavra. A Língua Portuguesa é muito traiçoeira, ele tinha sempre a última palavra, porque era o último que tinha direito a usá-la e chegada a vez dele falar, não havia já ninguém interessado em ouvir o que ele tinha a dizer. Ser o mais marreta é isso mesmo, um zero à esquerda.

Veio-me isso à ideia ao pensar em castanhas, vem aí o S. Martinho e tenho que descobrir onde arranjar uma arroba de boas castanhas para fazer a festa com a família, provar o vinho novo e ainda guardar algumas para juntar aos rojões que tão bem sabem no inverno. Haja quem os saiba cozinhar a preceito.

Por isso me lembrei do Fonseca, ele vive, literalmente, cercado por castanheiros, na encosta nascente da Serra da Estrela, e castanhas é com ele. Anda cá, mas tens que apanhá-las, disse-me ele. Ele vende-as baratas a quem quiser apanhá-las, pois já não tem idade para o fazer ele mesmo e custa caro arranjar quem o faça.

Como se pode ver nesta imagem, já há processos modernos para apanhar a castanha, mas para isso é necessário preparar o terreno, limpá-lo de todos os obstáculos, para que as máquinas possam trabalhar em segurança e garantir o resultado. Com os castanheiros do meu camarada Fonseca duvido que isso seja possível. Espalhados ao acaso pela encosta de serra e rodeados de mato de toda a espécie, não acredito que haja outro modo de apanhar as castanhas a não ser à moda antiga, à unha.

 Estou para aqui a pensar se vale a pena uma viagem até à serra mais alta de Portugal, só para ir buscar as castanhas. Claro que gostaria de ver e dar um abraço ao Fonseca que ainda não consegui rever, desde que regressámos de Moçambique, em 1968. E isso sim, já seria uma boa razão para me fazer ao caminho e percorrer os cerca de 500 Kms, ida e volta, que nos separam.