terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O Colégio de Cernache!

 


Ontem, seria o dia de rumar a Cernache para um convívio de saudade com aqueles rapazes que conheci, em 1955, ao chegar ao colégio, onde viveria os próximos 4 anos. Apenas 4, por que o padre Isidro já se fartara de me aturar e decidira dar-me a "liberdade".

Já vi que não tens vocação para esta vida, disse ele, e portanto, vais ter que procurar o teu caminho noutro lugar. Já avisámos a tua família que a tua estadia neste colégio terminou.

Usei o condicional para começar esta minha publicação, porque duas coisas aconteceram que tornam inviável a realização do tal convívio anual a realizar no dia da nossa padroeira, a Imaculada Conceição. A primeira dessas duas coisas não tem nada de especial, de colégio a funcionar em regime de internato passou a escola pública para tentar salvar-se da ruína. Mas não o conseguiu, acabou por falir e foi encerrado, antes que se tornasse um problema para a Companhia de Jesus.

A segunda razão é um pouco menos prosaica que a primeira. De 1955 até hoje já se passaram 70 anos e metade desses meus colegas não resistiu à viagem, foi caindo pelo caminho como folhas em dias de Outono. E a restante metade está como eu, só precisa de cautelas e caldos de galinha, e andar por aí a reunir em convívios já não está nos seus horizontes.

No tempo em que eu organizava ou comparecia aos convívios de "filhos da escola" que, habitualmente, aconteciam a sul de Coimbra, eu aproveitava o regresso para passar pelo colégio e matar saudades. Os porteiros do meu tempo já lá não estavam, mas ocupavam a mesma casa, à entrada do portão de ferro que fechava a quinta à curiosidade geral, os seus filhos, os mudos, que tinham a nossa idade e connosco conviveram nesse tempo.

Agora já nem essa oportunidade me resta, tudo passou à História. Nem convívio de colegas de estudos nem de filhos da escola com quem aprendi a marcar passo e fazer a continência. De tudo isso ficou apenas a festa da padroeira, pois o sítio onde vim parar, ao fim de tanto ano a calcorrear os caminhos da vida, é a paróquia de Nossa Senhora da Conceição, nesta cidade da Póvoa.

E a festa acontece aqui, todos os anos no dia 8 de Dezembro, menos íntima que aquela que tínhamos no colégio, mas mais barulhenta e festiva, com música na rua, procissão e toda essa parafernália que os padres inventaram para chamar à igreja os seus fregueses (como antigamente diziam e deixavam escrito nos seus assentos paroquiais). Eles paroquiavam uma freguesia inteira e entende-se que os tratassem por fregueses, hoje seria mais correcto chamar-lhes paroquianos.

O edifício do colégio ali continua sem saber-se que destino o espera!

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