segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

O 1º de Dezembro!

 

Cada vez que chega este dia, vem-me à ideia o Miguel de Vasconcelos a ser atirado pela janela fora para ser linchado pela populaça em fúria. E tudo por causa do aumento de impostos que ele, em nome do rei Filipe III, impunha ao Povo Português.

Esse dia ficou na História de Portugal, mas a grande maioria dos portugueses nem sabe qual é a razão de feriado que hoje lhes dá o direito de ficar na cama até mais tarde e rifar-se para o trabalho. A imposição do salário mensal, em que o patrão tem que pagar o mesmo salário, quer haja muitos, poucos ou nenhum feriado ao longo do mês, trouxe-nos essa benesse.

Os Primeiros Ministros de Portugal, depois da revolução dos cravos, têm seguido todos o mesmo caminho, quando precisam de dinheiro (para armar em amigos do povo!) aumentam-nos os impostos. Um dia salta-nos a tampa e repetimos o acto acontecido em 1 de Dezembro de 1640, atiramos o gajo pela janela fora. O "gajo" neste caso é o Montenegro e muita gente adoraria aquecer-lhe as costas, não tenho a menor dúvida.

Mas isso é pura ficção, eles podem fazer o que quiserem, a democracia assim o permite. Na vida real, hoje, comemoro o 57º aniversário do meu casamento. Foram 57 anos de muita luta para manter a união prometida "até que a morte nos separe". A bem da família e dos meus filhos, arranjei sempre uma desculpa para continuar a viagem. Aqui chegado, já perto da meta estabelecida, não me arrependo, voltaria a decidir do mesmo modo se me visse na mesma situação.

Neta coisa das responsabilidades assumidas é sempre mais fácil virar as costas, à primeira adversidade que nos atinge, mas não é possível prever o que aconteceria se tivéssemos optado por outro caminho. Só nos resta fazer o exame de consciência e aceitar que a decisão tomada foi, de facto, a melhor.

Estas minhas considerações sobre o casamento, trazem-me à memória a história do meu amigo Valter, um alentejanito de Sines que fez de tudo para me convencer a ficar com ele, em Moçambique, depois da nossa segunda comissão de serviço. Resisti a todos os assaltos e deixei-o lá ficar regressando à Metrópole com um amigo a menos (na verdade ficaram lá 3 dos meus melhores amigos). Sete meses depois, já eu estava casado.

E ele também, com a miúda que lhe deu volta à cabeça e o fez voltar a Moçambique, depois de terminarmos o curso para receber as divisas de marinheiro. Nem a miúda gostava assim tanto dele, além do pai não gostar mesmo nada do genro que ela lhe arranjou. Como resultado desse cocktail de sentimentos, o casamento acabou antes de completar uma ano. A este casamento seguiu-se outro e depois outro e outro. Deixou filhos espalhados por esses casamentos que nunca viveram com ele. Viveu sempre só e só morreu, embora a sua última mulher vivesse na mesma casa e fornicasse com outro que era mais novo e menos complicado de ideias.

 E é assim a nossa vida, há sempre um 1º de Dezembro em que temos que atirar algo pela janela para continuar a viver a vida que escolhemos viver. Quem não seguir este raciocínio só arranja lenha para se queimar, digo eu, como termo de encerramento desta minha crónica em dia feriado!

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