sábado, 21 de junho de 2025

Solstício de verão!

 

É hoje que começa o verão! Os últimos dias foram mais quentes do que os próximos que aí vêm, o que parece um contrassenso, mas não temos que refilar com quem governa estas coisas do clima, é aceitar e cara alegre!

Uma noite mais curta e um dia mais longo são as características do solstício de verão, exactamente o contrário daquilo que acontece em 21 de Dezembro, data em que ocorre o solstício de inverno. Daqui até lá os dias começarão a encolher, primeiro apenas uns segundos e depois uns minutos a cada sol pôr.

Eu, como já convivo com isso há mais de 80 anos, estou habituado e não me faz grande diferença. O vento e a chuva sim, foram os meus adversários, quando tinha que pedalar numa bicicleta (sem mudanças) a caminho do meu primeiro emprego, aos 17 anos.

Até ali, eu tinha sido um estudante habituado às maiores mordomias e foi um choque considerável para enfrentar um modo de vida que até essa idade ainda não tinha conhecido. O segundo embate, tão ou mais violento que esse de entrar na vida profissional, foi o meu alistamento na Marinho, um ano depois.

O meu primeiro emprego foi, como não poderia ser de outro modo para quem mora no Vale do Ave, na indústria têxtil. Arranjado por favor através de uma cunha metida ao chefe de escritório, eu fui integrado na Casa do Pano, como aprendiz de apontador. Aquilo não tinha nada que saber, bastava saber escrever e em pouco tempo eu já deitava o emprego pelos olhos.

O problema é que não era fácil arranjar outro e assim a minha decisão foi voluntariar-me para a Marinha. No ano anterior, tínhamos ficado sem Goa, Damão e Diu e começara a Guerra Colonial, em Angola. Já adivinhava que o destino mais provável seria a África, mas nunca vi isso como um problema, antes um meio de ir conhecer o mundo. Como turista não tinha grandes hipóteses, era filho de pai humilde e dinheiro era uma raridade lá em casa.

Além disso, o meu pai que sempre sonhara ter uma casa de sua, onde não tivesse que pagar aluguer, tinha contraído uma dívida de 25 contos de reis para pagar a um mestre de obras seu vizinho que lhe tinha garantido ser capaz de construir uma casinha habitável, onde caberia toda a família, por esse valor.

Entre o fim da minha vida de estudante e a de apontador da Casa do Pano da Valfar, em Vila do Conde, ainda tive tempo de ser o ajudante de pedreiro na construção da tal casinha, onde o meu pai viveu até ao dia em que foi chamado à presença do Criador. Sem ter a certeza, imagino que essa foi uma das condições do contrato celebrado com o tal mestre de obras, amigo da família. Fiz algumas bolhas nas mãos, mas não perdi nada com isso, serviu para esquecer a boa vida que tinha vivido nos últimos 16 anos.

Já que estamos a falar de solstícios aproveito a narrativa para dizer que no solstício de inverno, do ano de 1962, fui enviado de avião para a capital de Moçambique e aterrei lá em pleno solstício de verão. Isso é que foi um choque! Saí do aeroporto de Figo Maduro com uma chuvinha gelada e vestido com um uniforme de lã de ovelha e passado umas horas estava a passar o Equador e a suar como um preto!

Passei por Bissau, por Luanda e pela Beira e o calor parecia ir sempre aumentando. Quando, finalmente, aterrei no aeroporto de Lourenço Marques, o tal uniforme feito em tecido de lã tinha tanto suor acumulado que foi preciso uma autêntica barrela para o pôr em forma e meter no fundo da mala, durante os 30 meses seguintes em que não pôde ser usado.

Bem, gozem o verão que sempre é melhor que o inverno. A vida é uma sucessão de verões e invernos que só acaba quando Deus quiser. Eu começo, hoje, a viver o meu 82º verão, coisa que muita gente não conseguiu fazer !!!

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