segunda-feira, 30 de junho de 2025

As festas do meu concelho!

 Quando a véspera é longa demais o dia da festa é para dormir!!!

Verdade inegável, a noite de S. Pedro durou até o sol nascer, resultando num deserto de gente no dia do santo. Nem uma pessoa na rua, pelo menos durante a manhã, nem carros, nem foguetes, eu que vim para a sala ver a televisão, antes das cinco da madrugada, fiquei a ser a única alma viva e acordada deste pequeno mundo poveiro. Minto, por volta das seis horas ouvi alguns pés cansados que se arrastavam a caminho de casa.

Passados que são os 3 santos populares festejados nos 4 cantos de Portugal, fica o mês de Julho reservado para o meu santo que se festeja no dia 25, Tiago filho de Zebedeu e irmão de João, o apóstolo mais querido de Jesus que depois se tornou evangelista. S. Tiago e o dia 25 de Julho tem um significado enorme na minha vida, conforme tenho afirmado a cada ano que passa.

Ainda puto na Escola Primária só conhecia duas festas. A das cruzes, no primeiro fim de semana de Maio, festa do meu conselho, enfeitadas com flores de giesta e dando as boas vindas às cerejas. E a de S. Tiago  que era festejada na minha aldeia e reunia ali metade dos habitantes das freguesias vizinhas. No S. Tiago pinta o bago, diz o ditado popular e a rapaziada mais nova, como eu, partia à procura dos primeiros bagos das uvas americanas que eram as primeiras a pintar.

Comidos à mistura com um naco de broa de milho eram uma espécie de pão com manteiga, numa altura em que a manteiga era coisa de ricos e a margarina ainda não tinha sido inventada. A alegria da juventude fazia esquecer a pobreza extrema em que se vivia nas aldeias portuguesas, no pós-guerra. O Salazar tinha dito "eu prometi livrar-vos da guerra, mas não conseguirei livrar-vos da fome" e eu que nasci antes de a II Grande Guerra terminar, vivi essa realidade.

Para os mais pobres, famílias grandes de muitos filhos, já era uma sorte ter uma côdea de pão para roer por mais dura que fosse. Havendo alguma coisa para amaciar a dureza do pão, cozido em casa de semana a semana, já ele se tornava mais tragável e deslizava melhor pela goela abaixo. De Julho até Outubro as uvas faziam esse papel.

Depois das vindimas, todos os putos da minha idade faziam uma "gancha para ir aos gaipos" e lá partíamos por baixo das ramadas de videira à procura de pequenos cachos que, por serem pequenos demais ou terem muitos bagos verdes que tirariam qualidade ao vinho, os vindimadores tivessem deixado para trás.

A gancha não era mais que uma vara comprida com uma rachadela na ponta, onde se encaixava uma farpa de madeira para a manter aberta, para enfiar no pé do cacho de uvas - quando pequeno com meia dúzia de bagos, ou menos ainda, recebia o nome de gaipo - e torcer até o libertar da videira e trazer à nossa mão.

Com as aulas da Primária a começar em 7 de Outubro, era a regra nessa altura em que não havia Ministérios nem ministros a complicar tudo que é simples, a "época dos gaipos" terminava com o início das aulas. E a fatia de broa que levávamos na sacola para matar a fome no recreio era comida em seco com a saliva das nossas glândulas como única companhia.

Estava aqui a espremer os meus neurónios para ver se me lembrava do nome que nós dávamos (lá na minha aldeia) à sacola em que só levávamos uma lousa e um lápis para lá riscar as primeiras letras e números que depois se apagavam com cuspo, mas, infelizmente, não o consegui.

A maior parte dessas sacolas eram feitas de linhagem, aproveitada dos sacos de adubo usado na agricultura, ou dos fardos de bacalhau que eram vendidos às mercearias. A minha era mais fina, feita de cotim (um pano barato de algodão que servia para fazer calças de trabalho) visto a minha mãe ser costureira e ter disso lá em casa.

E, vejam lá, tudo aquilo de que me fui lembrar por conta do santo que se festeja no dia em que nasceu o meu único filho que não foi baptisado Tiago por mero acaso. Eu já tinha escolhido um nome para ele, sem saber em que dia nasceria, e quando surgiu a ideia de lhe chamar Tiago não quis voltar atrás no nome que já me soava familiar, Marco Aurélio!

2 comentários:

  1. Bom dia
    Uma verdadeira aula dos anos 50 e 60 .
    E o meu aniversário é precisamente no dia de S. Tiago.

    JR

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  2. Pequenos detalhes que me fazem sentir saudades da minha terra.

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