sexta-feira, 27 de junho de 2025

A guerra e as festas dos Santos Populares!

 Enquanto por essa europa fora há guerras, os mortos contam-se aos milhares e o sofrimento dos que ficam vivos é de arrepiar, nós por cá estamos virados para a festa, a folia, os comes e bebes tão próprios desta época a que chamamos, "dos santos populares".

Já lá vai o Santo António de Lisboa, assim como o S. João do Porto, agora é a vez do S. Pedro a quem chamam "O Pescador" e que, por conseguinte, é o patrono de todas, ou quase, comunidades piscatórias. A Póvoa não podia ser excepção e anda todo o mundo numa faina imparável para que amanhã a noitada seja melhor ainda que todas as já acontecidas no passado.

Cada pessoa diz que no seu tempo é que era bom e que isto agora não presta, mas a única coisa que se perdeu, com o passar dos anos, foi a juventude e a vontade, ou necessidade, de pinchar e dançar a noite toda e ver o sol nascer na praia. Aí reside a maior diferença, os mais jovens que não conheceram os velhos tempos são quem faz a festa e para eles é tudo uma maravilha. Lá virá o tempo em que dirão o mesmo que dizem, hoje, os seus pais e avós.

Aqui na Póvoa, o costume que impera é montar a cozinha na rua, fazer comida duas ou três vezes mais do que a família consome e convidar os amigos, ou até simples desconhecidos que passam à sua porta, para comer e beber do que há. Habitualmente são sardinhas assadas, mas também há barriguinhas ou febras de porco e em algumas casas ricas saladas de peixe seco grelhado na brasa e regado com bom azeite das nossas oliveiras.

O vinho, seja verde ou maduro, branco, tinto ou rosé, é em doses industriais e não há quem passe sede na noite de S. Pedro. Estende-se um copo ao convidado, enche-se até deitar por fora ( as pedras da calçada não se queixam do que vai por fora) e se demorar uns minutos na conversa ainda vai mais um, antes de seguir viagem até à próxima paragem.

Fogareiros a fumegar em todas as portas, cesto com broa de milho corta em fatias, cheiro de sardinhas no ar e os garrafões de tinto alinhados atrás do fogareiro, esperando que as gargantas sedentas o reclamem. Não há festa como esta, diz o povo poveiro e quem cá aparece para ajudar a espalhar a fama e cortesia das gentes do mar. E já foi muito melhor que é agora, isso eu posso garantir, pois com o desaparecimento da frota pesqueira, há menos peixe e dinheiro na comunidade.

Os mestres das traineiras eram os grandes promotores desta festa, toda a safra destes últimos dias, antes da festa do seu santo, era oferecida a familiares, amigos e vizinhos para que cada um pudesse ter a sua festa, tal e qual como eles a quem nunca faltava o peixe, o pão e o vinho. Era raro o pescador que não levava consigo o "palhinhas" (garrafão de 5 litros) cada vez que saía para o mar. Bebia-se mais do que se comia para aguentar o esforço e o frio das noites no mar.

A frota pesqueira está reduzida a um mínimo dos mínimos, a política europeia, desde os tempos de Cavaco Silva, como Primeiro Ministro, a isso nos conduziu. Para os poucos pescadores que restam, ao fim de um ano de trabalho a festa serve de desforra e também como meio de recarregar as baterias para mais um ano de luta contra o mar que tudo lhes dá, mas, por vezes, cobra uma alto tributo em vidas humanas. Mas, neste dia, esquecem-se todas as dores e lamentos, a hora é de folguedo e de gozar a vida.

 Logo que desligue esta maquineta que me mantém ligado a vós, irei verificar se não falta nada, o carvão para o fogareiro e as bebidas que calculo como necessárias, mas compro em dobro e o resto que é da minha responsabilidade. Sardinha frescas talvez não haja, mas por precaução já congelei meio cento delas para ajudar a espalhar o cheiro da sardinha assada em todo o bairro.

Hoje, é dia de ir ao talho buscar a carne de porco e os enchidos e passar pela padaria para trazer a broa e meio cento de pães para quem prefira uma febra no pão. Há sempre quem goste de sardinhas, mas não goste de sujar as mãos e então opte por uma febra dentro de um papo-seco que mastiga para depois emborcar um copo e seguir viagem.

É assim a vida, hoje prepara-se tudo, amanhã come-se e bebe-se e no dia do santo descansa-se e cura-se a bebedeira (se for o caso). Haja festa, festa é alegria!!!

 

Sem comentários:

Enviar um comentário