Isto ouvi eu da boca de um amigo. E logo lhe perguntei porquê. Porque fala das coisas sérias com um ar de riso, foi a resposta que recebi!
O "gajo" em questão era o nosso PM e de facto ele exibe um sorrisinho nos lábios mesmo quando nos traz notícias menos boas. Dá a impressão que ele, lá por dentro, se sente feliz por nos lixar a vida, ou pelo menos de ser ele a dar-nos a notícia de tal coisa.
Olhei para a televisão e a conversa era sobre a greve do próximo dia 11 e da posição da UGT em relação a esse dossier, o da Lei Laboral que ele quer mudar ao seu jeito ou de quem o motiva para estas coisas da política. A UGT tem que fazer concessões, dizia ele, e o seu sorriso acrescentava, toma lá que já almoçaste!
Eu fui delegado sindical na minha empresa, no tempo conturbado do PREC, e sei bem o que isso quer dizer. Nesse tempo, com o Álvaro Cunhal em grande forma, os sindicatos achavam-se no direito de exigir tudo e mais alguma coisa. A questão da aleitação, na empresa em que eu trabalhava e que empregava muitas centenas de mulheres, era uma novidade, mas recolhia o apoio de muita gente.
A defesa da mulher, sempre e em primeiro lugar, defendia a Fernandinha que era a presidente do sindicato, nessa altura, assessorada por um advogado famoso que a má-língua metia na cama dela. Meia hora de manhã e meia hora à tarde era a proposta de cima. O problema era que meia hora não chegava para ir a casa e dar a mama ao bebé. O conselho dos patrões era que alguém da família trouxesse o bebé à fábrica e as mães teriam a meia hora inteirinha para estar com o bebé, dar-lhe a mama e mudar-lhe a fralda.
Que nem toda a gente tinha alguém disponível para andar com o bebé em bolandas duas vezes por dia e assim a discussão e falta de consenso davam corda às reivindicações da mulherada. O pessoal masculino, como eu, queixavam-se de ser consumido todo o tempo reservado (autorizado) para a reunião com a questão da mama e não se conseguia avançar na discussão do resto dos problemas. Como para a empresa tanto valiam duas meias horas como uma, foi aprovada a proposta de uma hora no fim do período de trabalho, o que fazia com que todas as mulheres com bebés até um ano de idade saíssem uma hora mais cedo e criassem à empresa um problema e tanto.
Numa fábrica de confecções, como também acontece nos automóveis e outras, os operários são dispostos em linha que vão passando o artigo fabricado de mão em mão, acrescentando-lhe mais uma operação, chegando ao fim da linha pronto. Tirar duas ou três mulheres de uma dessas linhas era o mesmo que deixá-la parada. Assim, as chefes de linha eram obrigadas a substituir as faltas com funcionárias da linha ao lado, acabando por ficar, no final, uma linha, ou parte dela, paralisada até ao dia seguinte.
E a grande crítica, do lado do patronato, era que essa coisa da mama era uma grande desculpa, pois nenhum bebé ficava sem comer desde as 7 da manhã até depois das 5 da tarde. A maior parte dos bebés eram desmamados aos 3 ou 6 meses de idade para permitir às mães ir trabalhar. Ou seja, a exigência dos sindicatos servia apenas para chatear os patrões ou servir de moeda de troca por outro benefício qualquer.
Era isso que fazia o nosso PM sorrir, quando arengava que a UGT teria que fazer concessões. Tempo para mamar, isso está fora de moda, as mulheres modernas nem dão mama aos seus filhos para não estragar a peitaça que tanto orgulho lhes dá. Isso e outras coisas que eu penso, mas não digo para não ferir susceptibilidades. E mais dias de férias também não é o que o país precisa se quer aumentar o PIB deste país e mostrar um superavit no fim do exercício!
























