quarta-feira, 12 de março de 2025

Saúde a mais valia que teima em não dar a cara!

 Ser velho e ter saúde é um feito difícil de alcançar. Desde sábado que não saía da cama, excepção feita ao almoço de domingo para acompanhar a família, em dia de aniversário, mas ontem vesti uma roupa por cima do pijama, peguei no carro e fui dar uma volta.

Quando eu era um rapaz de 10 anos de idade, tinha um vizinho (rico) que tinha um cavalo que me enchia as medidas, parecia do Silver do Roy Rogers! Ele era 10 anos mais velho que eu e podia já ter morrido, só Deus sabe a hora reservada a cada um de nós. Mas não, está bem vivo e melhor que eu! Na volta que dei ontem, esbarrei-me com ele, de repente, e passámos uma hora a saber um do outro, por onde andámos nos últimos 70 anos.

Ele nunca casou nem teve filhos, quase como o seu irmão (que eu também conheci) que também não se casou, mas arranjou uma filha que foi cozinhada com uma rapariga que ele empregou como criada lá de casa. Mas comecemos pelo princípio da história, em 1957 morreu o pai destes dois irmãos num pequeno acidente de trânsito. Digo pequeno porque não envolveu mais que uma bicicleta e uns quantos (demasiados) copos de tinto.

Depois deste triste acontecimento, os dois irmãos, Manuel e Aurélio, que nunca tiveram vocação para agricultores decidiram tentar a sorte em Angola. A década de 60 foi fértil em emigração, os mais pobres davam o salto para França e iam trabalhar nas obras, os que tinham algumas posses procuravam coisa melhor. Foi o caso destes irmãos que passados uns anos já eram proprietários rurais no município da Gabela, Amboím, Angola.

Depois de debandada de Angola poderíamos encontrá-los, devolvidos à sua origem, o mais velho à frente de uma propriedade agrícola, seguindo aquilo que o seu pai lhes ensinou, e o mais novo à frente de um bem sucedido restaurante, na zona da Mealhada. Na cabeça dele tinha decidido fugir da agricultura, mas com o andar na idade e já farto de aturar clientes a pedir leitão, na hora das refeições, e bifanas com tinto fora delas, juntou-se ao irmão e aplicou tudo que tinha amealhado até então em propriedades agrícolas.

Sem descendentes e com alguns hectares de vinhas e prados para cultivar erva e milho para alimentar vacas leiteiras, passa o tempo a idealizar um testamento para deixar aquilo que herdou dos seus pais (uma das casas mais ricas da freguesia onde nasci) e mais o que ganhou com o seu trabalho ao longo da vida, a quem mais o merecer. Os herdeiros são poucos, além da tal filha, nascida em Angola, do seu irmão Manuel, tem mais alguns que são filhos das suas irmãs que nunca se aventuraram a sair da terra, mas se casaram e constituíram família.

Depois deste encontro, regressei a casa, despi a roupa que tinha por cima do pijama e voltei para a cama. Estava cansado e dorido, mas ainda tive ânimo para assistir à queda de um governo e de um clube de futebol que tem mais ambições que capacidade para ser um verdadeiro campeão!




E deixo-vos aqui algumas fotos da Gabela, destino escolhido por muitos agricultores portugueses, em Angola, ao abrigo daquele programa elaborado por Salazar, em 1961, e que lhe pudesse garantir um futuro mais risonho que aquele que anteviam na sua terra natal. Umas mais antigas e outras mais actuais!
"Para Angola, rapidamente e em força" foi a ideia central do discurso do Presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, no dia 13 de abril de 1961.

P.S. - Hoje, acordei um pouco mais bem disposto, mas ainda com dores abdominais! Para me vingar, amanhã planeio ir almoçar a Guimarães!

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