Nesta semana em que tanto se tem falado do Benfica, e desta vez pelas melhores razões, lembrei-me que há uma memória da minha infância de que nunca falei nos meus blogs. Pois bem, chegou o dia, vai ser hoje que ficareis a saber mais uma novidade a meu respeito. É uma história um pouco longa, mas o que mais temos à nossa disposição é tempo e de algum modo o teremos que consumir.
Por razões que pouco interessam para o caso, a minha bisavó materna casou-se e foi viver para uma freguesia bastante afastada daquela onde nasceu, que era a dos seus antepassados e onde eu viria a nascer, mais de um século depois dela. Ah, ela chamava-se Eusébia.
Nessa terra criou dois filhos, um rapaz e uma rapariga. Essa rapariga viria a ser a minha avó e Maria era o seu nome. Por volta dos seus vinte anos, as voltas da vida levaram-na para fora da freguesia onde nasceu e nunca mais lá voltou. A vida era difícil nesses tempos e era preciso ir à procura de trabalho onde o houvesse e foi o que ela fez. Por casualidade, foi parar a uma freguesia do concelho de Vila do Conde que fica encravada no concelho da Póvoa de Varzim, relativamente próxima desta cidade onde, hoje, eu habito.
Pelas mesmas razões que levaram a minha avó a sair de casa, também o meu avô António deixou a sua terra natal, uma freguesia situada no ponto onde se tocam os concelhos de Barcelos, Famalicão e Braga e veio morar para a Póvoa. Aqui se encontraram os dois, se apaixonaram e desse relacionamento nasceu a minha mãe. Por razões que, além de não as conhecer muito bem, pouco interessam para a minha história, o casamento não aconteceu e o meu avô foi para França, de onde nunca mais voltou.
Quando a minha mãe chegou à idade escolar, aconteceu uma coisa que viria a condicionar a sua vida e a da minha avó. A bisavó Eusébia que tinha ficado viúva há algum tempo começou a sofrer de duas doenças, qual delas a pior, um cancro da mama e um princípio de Alzheimer. Cancro que não foi operado e acabou por abrir uma ferida que exigia um curativo diário. Em casa do filho, com quem vivia, não deve ter encontrado o apoio que precisava e disse à minha avó que queria voltar para casa dos seus pais, onde tinha ainda direitos de herança, e que ela e a sua filha a deviam acompanhar.
E assim aconteceu, a minha mãe, de 7 anos de idade, a minha avó, de 33, e a minha bisavó, já com 71 anos, aterraram na freguesia, onde as mais novas nunca tinham ido e a mais velha já se tinha apagado da memória das gentes que lá viviam. E, como é habitual nestes casos, a notícia espalhou-se pelos arredores - a Eusébia voltou!
E dali em diante, a minha avó passou a ser conhecida pelo nome que carregou até morrer, Maria da Eusébia. Por tabela, a minha mãe que era filha da Maria e não da Eusébia, ficou crismada com o nome de Rita da Eusébia e só por este nome era conhecida em todo o lado.
A minha mãe era "fanaticamente" católica e levou à letra aquelas palavras constantes da pergunta que o padre faz no casamento e que rezam assim - prometes criar e educar todos os filhos que Deus houver por bem dar-te - e a que ela respondeu, sim. Além de 2 abortos complicados, pôs neste mundo 12 filhos saudáveis, dos quais 10 são ainda vivos. O destino quis que fossem os dois mais novos a morrer primeiro, um de acidente de trânsito e o outro de cancro no estômago.
Desses 12 filhos, eu tive a sorte de ser o primeiro filho varão, o homem da casa. Até ir para a Escola Primária, eu não tinha grande convivência com outras pessoas, vivia com a família e para a família. Na escola, como eram tudo Manuéis, Antónios, Joaquins e Joões, era preciso arranjar um nome ou alcunha que nos diferenciasse dos colegas. A mim calhou ser o «Eusébio». Sendo filho da Rita da Eusébia, neto da Maria da Eusébia e bisneto da própria Eusébia, não me parece que tenha sido descabida a escolha.
Eu não morria de amores pelo nome, mas aguentei firme durante 4 anos. Aos 11 anos de idade, por causa dos estudos, parti dali para nunca mais voltar e o Eusébio desapareceu para sempre.
O grande Eusébio (o King) nasceu 2 anos antes de mim, em Lourenço Marques, mas antes dele já eu era Eusébio e benfiquista, nesta terra onde nasci! Ele, só no dia 15 de Dezembro de 1960 aterrou em Lisboa, com destino ao Sporting, mas foi desviado para a Luz e na época seguinte já ostentava o nome de Eusébio na sua camisola encarnada.
Mas é ele quem fica na História, eu sou um ilustre desconhecido!