Hoje, escolhi um tema controverso. A palavra portuguesa PINAR tem muito que se lhe diga. Há quem tenha vergonha de a pronunciar e há também aqueles para quem pinar é uma alegria. Começo por vos mostrar o que diz o dicionário da Língua Portuguesa sobre o assunto.
Já leram? Já posso continuar com a história? Ora então vamos aos factos. O padrinho de baptismo da primeira filha da minha mãe foi o vizinho da frente. E pela simples razão de ter uma filha da idade da minha mãe que as fez vizinhas e amigas para a vida. Assim, o seu pai - que era um carpinteiro afamado - veio resolver um problema que se punha a todos os pais mal tinham um filho para baptizar, coisa que ao meu pai (que Deus lá tem) aconteceu uma dúzia de vezes.
Todos os rapazes da família Matos, cuja origem era a Vila de São Pedro de Rates - famosa há séculos e hoje mais ainda por influência dos peregrinos de Santiago de Compostela - aprenderam o ofício com o seu pai e acabaram carpinteiros. Uns mais especializados numa coisa e outros noutra. Um deles mais virado para a construção civil, outro para as mobílias e aquele que interessa para a minha crónica de hoje, foi um grande especialista na construção de «carros de bois», artefacto sem o qual era impossível viver, na terra onde nasci.
Quando o pai de família veio de Rates para Macieira montou arraial na casa que, á data em que decorrem os factos que aqui relato, pertencia ao Miguel Matos, o padrinho da minha irmã. Depois, os filhos espalharam-se por toda a freguesia e os netos pelas freguesias e concelhos vizinhos, levando consigo a arte da carpintaria. Um deles viria a construir de raiz a casa que o meu pai (com muito esforço e sacrifícios inenarráveis) mandou construir e onde viveu até que a morte o levou para uma vida muito mais descansada que aquela que teve, durante os 90 anos que por cá andou.
Quando eu era rapaz em idade escolar não tinha grande coisa com que me entreter, pois ainda não tinha sido inventada a internet, assim como muitas coisas modernas que hoje são corriqueiras, e nem uma bola tinha para dar uns pontapés. E tinha ainda outro problema que talvez haja quem o tenha sentido também. Os rapazes da minha idade que eram filhos de lavradores marchavam para o campo para ajudar os pais e só os pobres (como eu) ficavam para trás à procura de parceiro para as brincadeiras, problema difícil de resolver.
Nessa situação, eu passava algum tempo sentado em cima de um mocho vendo os carpinteiros trabalhar. A grande serra que transformava pinheiros e eucaliptos em pranchas e tábuas prontas a utilizar, a garlopa e a plaina, assim como a enxó, o maço e o formão, ferramentas que vi nas suas mãos e, logo que tive dinheiro suficiente, comprei para me treinar a usá-las. Falta-me dizer que não sou mestre de coisa nenhuma, mas tanto trabalho de trolha ou pedreiro, como de carpinteiro ou electricista. Talvez fique tudo mal feito, mas a funcionar.
Um dia, nessa minha presença na carpintaria do Matos, ouvi o mestre dizer para um dos seus ajudantes: - chegou a hora, vamos pinar! Ouviu-se uma gargalhada geral e eu que era ainda muito novo e inocente nessas "brincadeiras", fiquei sem perceber onde estava a piada. Hoje, não tenho dificuldade em perceber as palavras do mestre carpinteiro, os pinos tinham chegado do ferreiro e era hora de pinar as ferragens no carro que estava quase pronto.
Um carro de bois constrói-se como um navio, começando pelo cabeçalho (no navio a quilha) que é a peça mais forte e mais comprida e que dá suporte ao resto da estrutura. As chedas que correspondem às amuras do navio, são a parte que pode transformar a obra em arte ou desastre, dependendo da habilidade do artista. O rodado é feito à parte e só se junta à estrutura depois de "pinado" convenientemente. A barra de perro que protege as rodas do desgaste natural é fixada com pinos que têm mais de 10 centímetros de comprimento e essa operação de "pinanço" é uma das mais importantes para garantir a consistência da obra.
Perceberam, agora?
Bom dia
ResponderEliminarUma boa lição do bem pinar em Portugal.
JR
Pinard - tintol , pinga
ResponderEliminarIl est bon, ce pinard - esta pinga e boa !
Um chico esperto chega de Paris a Santa terrinha, entra na tasca onde uma boazona esta a servir ao balcon : que deseja o senhor ? Eu quero pinar !... O pai da moça que estava a ouvir pega pega num banco e da-lhe na cabeça em gritando ; vai pinar a tua mae !
Na terra dele não havia Pinard e lixou-se!
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