Ontem, à noite, estava um frio de cão. Eu tinha passado um dia muito chato, enfiado no hospital de Matosinhos, e não estava com paciência nenhuma para teclar fosse o que fosse. Por isso e não porque me apetecesse muito, meti-me debaixo dos lençóis mais cedo que o costume. Tomei a minha (auto) medicação e entreguei-me nas mãos de Morfeu. Não dormi grande coisa e acordei com a minha cara-metade a refilar que não a tinha deixado dormir. Coisas da tosse que não me larga, pois tenho os brônquios muito obstruídos.
No meio do sono inquieto comecei a sonhar que me tinham encarregado de resolver o problema do Bairro da Jamaica, no Seixal..Aquilo parece-me mais Amora que Seixal, mas os nossos jornalistas, se calhar, nem sabem que Amora é uma freguesia do Seixal, embora pelo tamanho dos prédios pareça que o Seixal, de casas antigas e baixinhas, á volta da baía, é uma espécie de arredores da cidade da Amora. Uma grande confusão para quem não está por dentro do assunto. Mas isso não tem qualquer interesse para a minha história.
Devo ter afirmado, na presença de alguém importante, que aquele imbróglio seria muito fácil de resolver e fui chamado à presença do nosso PM, António Costa.
- Então achas-te homem para resolver um problema daquela envergadura?
- Desde que me dêem carta branca para cortar a direito, será a coisa mais fácil do mundo.
- Com carta branca queres dizer o quê?
- Primeiro que tudo o pilim, pois nada se faz sem ele. Mas não será preciso mais que um pequeno reforço ao orçamento da Câmara do Seixal.
- Essa é fácil. E que mais?
- Quero o departamento de projectos e licenças da Câmara, ás minhas ordens e sem limitações. Este projecto ganha prioridade sobre tudo o resto. E instruções na Conservatória dos Registos para obedecerem, sem refilar, ao que eu lhes mandar fazer.
- Isso não me parece difícil de conseguir, embora adivinhe que vai haver muito burocrata a deitar fogo pelas ventas.
- Ora aí está o problema, são eles os culpados de toda esta situação e quero-os fora do caminho.
- Por onde queres começar?
- Quero um levantamento, imediato, de toda a gente que lá mora, para evitar que se juntem mais alguns pretendentes às casas, quando as virem a ficar com melhor cara. E um parecer do LNEC, para ver se há alguma coisa que precise de ser demolida, antes que eu comece a rebocar aquelas paredes todas.
Bem, lá me deixaram tomar conta das coisas, embora eu visse que havia muita gente de semblante fechado, talvez rezando aos seus santos para que eu me estrepasse todo e desse com os burros no chão. Gente incompetente e com inveja é o que mais há por aí e deviam ter vergonha de deixarem arrastar-se uma situação como aquela que ali se vive.
A expropriação dos imóveis em favor do Estado, por abandono, foi o primeiro passo. A emissão de uma licença de construção para começar a mexer naquilo e possibilitar, mais tarde, a emissão do alvará de habitabilidade. Com uns poucos de milhares de euros e uma grande ajuda dos interessados, a quem eu obriguei que se oferecessem como voluntários, em pouco tempo as canalizações e ligações eléctricas estavam a funcionar.
A parte mais difícil seria a emissão de um contrato de aluguer com cada um dos interessados e o estabelecimento de uma renda social que as pessoas pudessem pagar. A Segurança Social que arcasse com o prejuízo, até as coisas entrarem nos eixos. Mais tarde se verá se os inquilinos se abalançam a comprar a sua fracção, por um preço muito abaixo do mercado.
Estava eu nisto, a fazer um balanço da situação, quando acordei.
Que pena, era apenas um sonho, mas gostava de ver aquilo resolvido!