sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Mueda - Testemunhos!

Declarações de uma testemunha que parece confirmar aquilo que publiquei na mensagem anterior:

Daniel Muilundo
(Aldeia Comunal de Mualela, Palma, Cabo Delgado, 21 de Julho de 1981)

Fui a Mueda assistir às conversações entre o governo colonial e o Faustino [Vanomba]. Saí no dia 15 de Junho de Mualela para Imbuhu e pernoitei lá. No dia 16 cheguei a Mueda. Quando lá cheguei as pessoas já se encontravam concentradas. Havia homens, mulheres e algumas crianças. Muitas pessoas estavam bem vestidas. Havia pessoas de diversas raças: indianos, brancos e pretos. Momentos depois os colonialistas içaram quatro bandeiras. O administrador de Mueda pediu à população que fosse participar no içar das bandeiras. Mas a população negou-se a içar [a bandeira] dizendo que tinham ido lá para ouvir as palavras do Faustino [Vanomba] e do Kibiriti [Divane]. O Kibiriti e o Faustino estavam de baixo de uma mangueira.
Informaram-nos que o governador só chegaria às 15 horas, mas quando chegou às 15 horas o governador saiu de casa do administrador. O governador escolheu dois padres da Missão de Imbuhu, um indiano conhecido por "China" e também os régulos para se concentrarem na varanda da secretaria [da administração]. O governador ordenou a um dos padres que abençoasse o grupo do Faustino ao mesmo tempo que o pretendia matar! Um soldado saiu para fora e explicou ao povo que o Kibiriti seria morto porque cometeu um erro.
Depois, o governador chamou-os individualmente lá para dentro. Porém, não conseguiram matá-lo [ao Kibiriti] e em seguida chamaram o Faustino Vanomba e tudo se repetiu porque ele não morreu. Os dois saíram amarrados para o carro e nós apanhámos o carro e dissemos que "esse carro não vai avançar. Fizeram isto com os do primeiro grupo, da Modesta, mas hoje isso não vai acontecer". Foi neste momento que a população reclamou, começando a atirar pedras. Então o governador mandou abrir o fogo. Como os soldados estavam próximos da administração, abriram fogo e mataram um dos meus conhecidos, de nome Kanjigwili, natural de Mueda. Quando isto aconteceu fugimos e eu esqueci-me lá da minha bicicleta. Fiquei durante algum tempo [na aldeia de Mpeme] e voltei mais tarde para ir buscar a bicicleta. Quando lá cheguei vi por volta de 17 pessoas mortas.
Depois do massacre andavam os cipaios de casa em casa a recolher as nossas armas e a mandarem-nos depois para Nangade, para registo das armas. O Faustino e o Kibiriti foram levados para Pemba.

2 comentários:

  1. A população angolana e moçambicana tinha razão para se revoltar contra os exploradores colonialistas portugueses. Alguns foram para lá daqui corridos pelos Salazar, de bolsos vazios, os quais conseguiram grandes fortunas à conta da exploração exercida sobre quem para eles trabalhava de/ou quase de borla!

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  2. Já conhecia este e outros testemunhos
    E sabe como é, nestas coisas. A mesma cena vista por vinte pessoas cada uma a conta de maneira diferente.
    Um abraço

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