terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Eu turista me confesso!

No tempo em que ainda não existia a A25, nem tão pouco o IP5, era um bico de obra viajar do Porto para Viseu e, pior ainda, para a Guarda. Pouco antes do Natal de 1969, um ano e picos depois de ter saído da Marinha, apanhei um autocarro com destino a Paris para provar as delícias da emigração. Oito horas depois de sair da Póvoa estávamos em Vilar Formoso, mas não me perguntem que caminho tomámos, pois disso não guardo a mínima recordação.
Alguns anos mais tarde, já ao serviço da empresa para quem trabalhei até me reformar, tive que ir visitar as fábricas de Lanifícios na região da Serra da Estrela. O caminho que me aconselharam passava pela Mealhada, Mortágua, S. Comba Dão, Nelas e Seia, perto de seis horas de viagem bem cansativas. Saí de casa num domingo, depois do almoço, para lá ir pernoitar e começar a trabalhar ao toque da Alvorada. Ao passar em Albergaria-a-Velha, já saturado da lenta e habitual bicha de camiões na EN1 que ninguém conseguia ultrapassar, avistei uma placa que indicava, para a esquerda, S. Pedro do Sul e Viseu. Eu sabia da existência daquela estrada e também sabia que era má até dizer chega. Mas como tinha tempo de sobra e o diabinho da curiosidade sentado no meu ombro esquerdo a empurrar-me para ali, resolvi arriscar e ala, por aqui é que é o caminho.


Fez-se noite sem eu ter chegado a Viseu, mas não me afligi com isso. Come-se bem e bebe-se melhor por aquela zona das Beiras e abanquei para jantar num restaurante que me apareceu à borda da estrada. Um assado de vitela de Lafões, regado com um tinto de Penalva do Castelo, ficaram-me na memória até hoje. E depois do estômago (re)confortado com tão opíparo manjar, foram ainda mais duas horas de condução até atingir o dormitório onde tinha decidido descansar o esqueleto.
Esta manhã, sem nada que me prendesse em casa, agarrei-me ao computador e fui reviver essa famosa viagem, de forma virtual para não cansar as pernas nem gastar gasóleo que, embora esteja mais barato, ainda custa um pouco a pagar. A estrada em questão chama-se EN16, ou chamava-se, pois alguns troços já nem sequer existem. Ou foram abandonados e o mato tomou conta deles, ou foram incorporados em vias mais modernas e já ninguém se recorda como eram há 50 anos.


De Albergaria a S. Pedro do Sul, principalmente o primeiro troço, era de desconjuntar a coluna de um santo com tanto sobe e desce, curva  para um lado e contra-curva para o outro. Depois de chegar a Viseu, já o terreno é mais plano e dali até à ponte do Mondego, entre Nelas e Seia, é caminho fácil. Depois da ponte são já os contrafortes da Estrela e o terreno bastante acidentado e a estrada uma coisinha estreitinha que mal permitia o cruzamento de dois automóveis. Felizmente, nesse tempo, eles eram ainda muito poucos.
Na viagem de regresso e como turista que sou, resolvi seguir um caminho que também conheço em parte e que aproveitei para reavivar na minha memória, uma vez que já por ali não passo há mais de 15 anos. De Seia subi à Loriga e dali rumei a Vide, terra do recentemente falecido Almeida Santos. A caminho da Ponte das Três Entardas, passei por uma aldeia chamada «Aldeia das Dez» que deve o seu nome a dez mulheres que terão, em tempos muito antigos, descoberto um tesouro que continha um mistério tenebroso que não quiseram desvendar e decidiram parti-lo em dez partes, as quais separadas não tinham qualquer significado, e tomando cada uma a sua parte, partiram e nunca mais se encontraram até hoje.


Da Ponte das Três Entradas viajei até Vendas de Galizes, Tábua e Santa Comba Dão. Dali até à Mealhada foi um tirinho e pela A1 até casa é pouco mais de uma hora de condução. Mas cheguei feito num frangalho. Até de modo virtual, uma viagem desta natureza deixa uma pessoa com a língua de fora. 

4 comentários:

  1. boa noite
    amigo por mal dos meus pecados conheci bem essas estradas pois a minha profissão assim me obrigava , mas o que realmente deixa saudades são mesmo as refeições que por essas zonas fazíamos.
    hoje temos de sair da A25 para podermos usufruir de uma refeição com alguma categoria .
    são as contrariedades das novas estradas que hoje temos.
    JAFR

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  2. Também conheço uma estrada pela Serra, entre Aveiro e S. Pedro do Sul que é, ou pelo menos era assim. Há uns 28 anos que por lá passei a última vez.
    Um abraço e bom fim de semana

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  3. Tu turista te confessas,
    já fizeste a confissão
    nas viagens não te percas
    ruins como eram já não são
    porque são melhores pudera,
    nem assim todos contentes estão,
    aqueles que querem auto estradas de borla
    para passearem os veículos de alta cilindrada
    porquanto os pobres andam pedindo esmola
    para uns tudo terem, outros não tem nada!

    Sou a favor do utilizador pagador,
    assim mesmo é que está bem
    como também faz o cantor
    aquele que melhor voz tem
    até lhe dão se calhar sem terem mais valor!

    Já fizeste a tua viagem,
    a ela o meu comentário já escrevi
    senão houvesse tanta pilhagem
    muito melhor se vivia aqui!

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  4. Eu conheci algumas dessas estradas nacionais, antes de aparecerem as autoestradas, 1º quando a filha mais velha pensou ir para Viseu estudar, depois com a mais nova quando foi para Bragança, tinha um bom carro, mas mesmo assim eram cansativas as viagens quando era ida e volta no mesmo dia! Mas parava para saborear a nossa gastronomia e as espetaculares paisagens, nesses tempos nada me doía.

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