Cachinhos da Páscoa !

É assim que lhe chamam na minha terra. A razão é simples, porque parecem cachos de uvas e florescem por altura da Páscoa. São lindos, eu gosto muito deles, a minha mulher odeia-os. Pouco depois de abrirem as flores começam a cair e astram o chão do meu terraço. Eu gosto e deixo ficar assim, ela odeia e passa a vida a varrê-las para o lixo. Duas concepções diferentes de ver a vida.

Há quem cultive as glicínias, quem enfeite jardins e alamedas com elas e há também quem lute com elas todo o ano para não invadirem tudo, como acontece comigo. Quando comprei esta casa, onde moro, ela estava devoluta há muitos anos. Os donos morreram de velhos e ninguém mais quis morar aqui, por ser uma casa à moda antiga e sem condições de conforto. O telhado apodreceu e caiu abaixo e as silvas apoderaram-se do espaço. Na parte de trás, por entre as pedras nasciam uns pés de glicínias que na primavera se enchiam de flores. Quando reconstruí a casa tive o cuidado de não as eliminar todas e pouco tempo depois elas subiam-me pela casa e ameaçavam tapar tudo. Desde então, ando sempre de tesoura na mão e cada vez que vejo um rebento a espreitar ... pimba, já foste!

Tento manter apenas um pé, para me enfeitar a casa na altura da Páscoa, mas durante o verão ele deita crescenças que correm o quintal todo. Deitam raízes em qualquer lado e trepam pelas árvores acima como serpentes. Para quem gostar são uma alegria, para quem não gostar são um verdadeiro castigo. Nesta altura têm apenas folhas amarelecidas pelo tempo que caem ao chão e o atapetam, mas dentro de quinze dias não restará nenhuma. E daqui a dois meses estarão os cachinhos novos a abrir, prenunciando a Primavera.