Temos o país inteiro pendurado na morte do Nicolau Breyner. A mim não me diz assim muito a morte dele. Nos 72 anos de vida que já levo neste mundo de Cristo, tenho visto morrer tanta gente que já estou meio vacinado contra isso. Morreram os meus pais e avós, os meus tios e primos e até irmãos. Morreram amigos, vizinhos, colegas de estudos e de trabalho, assim como camaradas da tropa. De toda esta gente que se foi e me deixou para trás ( o último foi o Miguel Gomes, meu chefe de esquadra na CF2), todos me estavam muito mais próximos que o Nicolau.
Não quero ser indelicado, mas não me vou pôr aqui a chorar a morte do Nicolau, pois seria uma mentira pegada e não tenho vocação para fingir aquilo que não sinto. Senti, particularmente, a morte da minha avó materna, porque foi ela quem me criou e quem sempre esteve mais próxima de mim. Senti também, de forma marcante, a morte do meu irmão mais novo, pela pouca idade que tinha, por ser o mais novo dos muitos irmãos e ainda por ter sofrido bastante antes de morrer com um cancro no duodeno.
Vi morrer muita gente ao longo da minha vida, uns deixaram-me mais pena (saudade) que outros e houve também muitos que não despertaram em mim a mínima reacção. Passaram ao meu lado e esfumaram-se como nuvem em dia de verão, sem deixar rasto. Mas há ainda outros que morreram para mim, embora andem ainda por esse mundo. Há amigos que, por uma ou outra razão, quero dizer, com razão ou sem razão que eu conheça, me viraram as costas e fazem de conta que não existo. E essa morte, de certo modo, custa mais a suportar que a outra, aquela que termina com um funeral e um corpo enterrado no cemitério.
Mas a vida é assim mesmo e não vale a pena questionar isso. Altos e baixos, céu limpo ou com nuvens, amores e ódios, saúde da boa ou nem tanto, tudo isso somado é aquilo a que chamamos vida. Vida que é uma espécie de prova que acaba quando chegamos à meta, tal como aconteceu ontem ao Nicolau Breyner. Depois de ter vivido já 72 anos, entendo que a minha não deverá estar muito longe, mas não me dá isso grande preocupação. Por cá andarei, enquanto Deus quiser!
Sejam as pessoas ou não simpáticas. Sejam ou não condecoradas em vida, ou sejam elogiadas depois mortas. Tudo acaba em nada! Portanto, é melhor comer e beber, até terminar o prazo de validade! Que a gente desconhece quando é que irá acontecer? Tarefa essa que está a cargo de Deus e do destino!
ResponderEliminarMorrer, morremos todos, mas morrer sendo uma figura pública é outra história... Nos dias que correm vende-se melhor a morte de um actor de telenovela, que a morte de antigos fuzileiros, onde o único contacto com uma camera foi para desejarem "Um Natal Feliz" aos seus entes queridos na Metrópole.
ResponderEliminarEu não conhecia o Nicolau. Mas era uma pessoa que admirava. E mais, quando um ano depois dele ter descoberto o cancro na próstata, deu uma entrevista falando sobre isso, o meu marido que tinha acabado de descobrir o mesmo e estava de rastos, encheu-se de esperança e foi uma grande ajuda no seu tratamento. Porque era alguém que ele admirava, que tinha passado pelo mesmo e estava ali a falar exactamente do que ele sentia. Sentimos a sua morte. Mais do que a de qualquer outra figura pública que tenha desaparecido antes. De meu pais senti a morte como um alívio. Meu pai sofria horrores e pedia-me a toda a hora que o ajudasse a pôr termo à vida, deixando junto dele as caixas dos medicamentos e indo-me embora. Tenho a certeza que se conseguisse levantar-se da cama se teria matado. Minha mãe, paralizada por AVC e com Alzheimer, já tinha partido à muito quando morreu. Não tenho pena de quem morre assim. É um alívio para o próprio doente.
ResponderEliminarUm abraço
Não pensando na morte, passei em passo de corrida, a sementeira das batatas espera-me! O meu abraço.
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