Estava aqui a pensar, cá para comigo, que não tenho grandes episódios de guerra para relatar neste meu blog, de forma a deixar toda a gente de boca aberta e a pensar que grande herói que eu sou. Vejo outros escreverem livros, centenas de páginas relatando aquilo que viveram durante a sua passagem pela Guerra do Ultramar (e provavelmente o que imaginaram ou ouviram contar), enquanto que eu resumi em duas ou três páginas o pouco por que passei, lá nas margens do Lago Niassa.
E é por isso que me sinto afortunado, pois bem podia ter ficado sem as pernas, como aquele soldado do Batalhão 1891 que as perdeu por ir à minha frente dois ou três metros, naquele dia em que rebentou a mina, no caracol da estrada entre Metangula e Maniamba. Ou ter morrido, em vez do cipaio que ia ao meu lado, no dia 9 de Janeiro de 1965, dia em que tive o meu baptismo de fogo, perto da fronteira do Tanganika. E nem falo naquele dia em que o soldado da PM me acertou um tiro no cotovelo direito, porque com um pouco menos de sorte (e um desvio de 20 centímetros para a esquerda) me teria perfurado um pulmão e talvez não tivesse sobrevivido para vos contar a história.
Enfim, eu e vocês que agora lêem isto que acabei de escrever, passámos incólumes pela guerra, tivemos mais sorte que aqueles que lá deixaram a vida ou a saúde e somos, por conseguinte, uns sortudos.
Que se lixem as histórias que não tenho para vos contar!
Fiquei com curiosidade de saber essa do PM... mas concordo absolutamente, foi melhor ter ido e voltado sem grandes histórias.
ResponderEliminarTiveste tempo para isso,
ResponderEliminarnas margens do Lago Niassa
bem podias escrever um livro
relatando em cada página!
Sem ser preciso inventar uma virgula,
da tua passagem por lá verdadeira
relatando a verdade, não a mentira
dispensando a imaginação pantomineira.
Não por acaso, eu também,
por lá passei onde tu passaste
naquela terra que era de alguém
nem eu, nem tu lá ficaste.
Tão mais perigosa no norte,
lá andamos tão perto dela
mas, porque a vida é tão bela
foi ela que nos livrou da morte!
Um dos dias mais tristes da minha vida,
foi dia 31 Maio, à tarde, em Nova Coimbra,
do ano de 1965, porque, uma bala perdida
quando nos preparava-mos, antes da perdida
para o Rio Lunho, a um camarada meu tirou a vida!
As guerras mudam com os tempos, agora mata-se cobarde-mente pessoas desarmadas numa qualquer esplanada, nos aeroportos, em qualquer meio de transporte a caminho do seu trabalho, são os cobardes à solta!
ResponderEliminarA quem é contra a liberdade,
ResponderEliminarem vez de autorizarem embargassem
se tivessem os senhores da actualidade
mais inteligência, menos asneiras falassem
não precisavam de agir com tanta brutalidade
se lhe de fornecerem armamento deixassem,
e a ganância não fosse superior à humanidade!