sábado, 4 de fevereiro de 2023

Realizar um sonho!

 Para um jovem com menos de 20 anos, a viver em Lourenço Marques, o primeiro sonho era ir à África do Sul. Joanesburgo ou Pretória chegava, porque a cidade do Cabo ficava muito longe. Para isso, o primeiro passo era arranjar uma namorada naquele país e ir treinando o inglês. Eu fiz isso tudo e, em 1963, meti o requerimento para me autorizarem a tornar o sonho realidade. Fiquei com receio que fosse indeferido, mas para surpresa minha veio deferido e logo comuniquei à rapariga que morava em Bloemfontein que me aguardasse. Ela ficou radiante, se calhar mais que eu, pois numa terra de pretos era difícil encontrar um namorado branco.

Capital do Orange Free State

Foi um sonho nunca realizado, pois antes de chegar a data apanhei um castigo, daqueles que ficam registados na Caderneta Militar e influenciam a nossa Classe de Comportamento. Lá se foi o sonho de ir até Bloemfontein visitar a namorada, testar o meu inglês e ver se havia ali uma oportunidade de futuro para mim, pois no ano seguinte acabava a comissão e poderia pedir para levar baixa e ficar em Moçambique. Mesmo que fosse obrigado a cumprir os 2 anos de Marinha que me faltavam, poderia sempre ficar no Comando Naval, à espera da hora certa para seguir a minha vida.

O destino não quis assim, perdi o contacto com a namorada - nem o nome dela recordo - e arranjei outras que eram da zona do Cabo. Nessa altura, não fazia ideia que, em breve, passaria por Cape Town, mas o destino tece a teia das nossas vidas como bem entende, deixando-nos fora dessas decisões que só a nós interessam.

Entretanto, os Frelimos desataram aos tiros, no norte de Moçambique e eu fui destacado para lá, adiando em quase 6 meses o fim da minha primeira comissão de serviço. De Setembro de 64 a Janeiro de 65 não houve mais contactos com as namoradas sul-africanas nem planos para um futuro imediato. Quando se ouvem balas a zumbir à volta da nossa cabeça há outras prioridades e fazer planos para o futuro fica adiado sine die.

Estava longe de imaginar que a minha viagem de regresso à Metrópole portuguesa já estava a ser preparada e, pouco depois de termos regressado à capital, soubemos que o nosso meio de transporte para o regresso seria o paquete «Infante D. Henrique», o melhor da nossa frota comercial, e faria uma paragem no Cabo.

Cidae do Cabo e a Table Mountain

Voltou o frenesim à volta das namoradas que cada um de nós tinha arranjado e vá de avisá-las que ficassem de olho no tal paquete que, na última semana de Março, passaria pelo Cabo, pois queríamos vê-las todas no cais a acenar-nos as boas vindas.

E assim aconteceu, mas acabei por nada ver da cidade, pois levaram-nos para casa delas e por causa do Apartheid, lá ficamos, no bem-bom até, serem horas de reembarcar. No dia seguinte, levantámos ferro e rumámos a Luanda que era a próxima paragem. E depois de Luanda, as Canárias, a Madeira e, finalmente, Lisboa, do dia dia 11 de Abril de 1965. Há um camarada da CF2 que não esquece este dia e faz questão de me chamar a atenção para isso a cada ano que passa. Talvez ele tivesse receado pela sua vida e ver-se de regresso à sua terra, são e salvo, tenha calado fundo na sua alma!

5 comentários:

  1. Por essa altura a RSA ainda era um país de sonho. Porém a corrupta ONU e o socialismo acabou com o dream country. O Mandela e o esquerdismo fizeram o resto. Hoje passar na baixa de Johannesburg é um risco. As grandes companhias abandonaram 'a cidade do ouro' por óbvias razões. Prédios abandonados, lixo & assaltos é o pão nosso de cada dia. E embora sendo 'home' para uma grande comunidade de portugueses / descendentes, vivem em contínuo sobressalto e sem apoio das entidades nacionais. A Africa do Sul foi mais um desastre da ideologia socialista - a mesma responsável pelo nosso empobrecimento.

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  2. E a recordar se vão vivendo tempos idos...o que não é nada mau.
    Nada se modifica, mas é sinal de que a memoria ainda esta viva e fresca!!
    :-)

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  3. Também eu tive o sonho de visitar a namorada em Johanesburg, , o João Camaradana RSA. Tirei o passaporte sem grande dificuldade, marquei férias e estava no bom caminho, quando o pelotão de que fazias parte foi destacado para Metangula. Aí cortaram-me as férias, cancelaram internamente as saídas para o estrangeiro e lá se foi o sonho e a namorada. No entantanto, o algarvio João Camarada que tratou da sua viagem a Pretória para visitar a namorada, teve exito e visitou a dita, que acabou esposa e tanto quanto sei nesta data ainda devem estar juntos. Um abraço.

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    1. Fizeste bem em lembrar o João Camarada, vou telefonar-lhe para ver como vai de saúde!

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    2. A última vez que lhe liguei foi a esposa que me atendeu. Disse-me que estava a trabalhar já com setenta e tal anos. O homem é um couraçado.

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