domingo, 19 de fevereiro de 2023

Até o Camões sairá da tumba!

Isabel Lucas, uma das mais conceituadas jornalistas culturais portuguesas, empreende uma viagem-descoberta pelo Brasil, esse país simultaneamente tão próximo quanto longínquo, tão íntimo quanto desconhecido. Fez as malas e partiu da literatura brasileira dos seus escritores e das suas obras basilares como a forma possível de perscrutar a identidade dessa geografia imensa, o maior país do mundo em território, o sexto em população.


Fui atraído por uma notícia que falava na Língua de Camões e, como sempre que isso acontece, mergulhei fundo para ver se aprendia mais qualquer coisa que ainda não sei. E o que não sei deve muito significativo, pois refere-se nessa notícia que há 400 mil vocábulos em português. E há ainda quem acrescente que, espiolhando bem, talvez se chegue aos 600 mil.
Não sei se algum dia terei oportunidade de ler este livro da Ana Lucas, mas pelo que li percebo que temos algumas ideias muto diferentes em relação à Língua que falamos. Ela defende que o Brasil, com os seus mais de 200 milhões de habitantes imporá a Língua que quiser, como e quando quiser. E que devemos ser nós, os portugueses, a aprender com os brasileiros e aceitar muitos vocábulos que eles usam no seu linguajar.
Por exemplo, a interjeição "OI" que pode ser traduzida por Olá, mas também como, "o quê, pode repetir?" E que tal comparar a nossa palavra "tipo" ou "gajo" com o brasileiro "cara". Cara para mim pode ser um substantivo feminino (Ex. Gosto da cara que tenho) ou adjectivo (Ex. Minha cara amiga), mas admito que na frase, "és uma cara sem vergonha" estamos quase a copiar os brasileiros.
A escritora/jornalista diz que o Brasil, no que toca à Língua de Camões, é o país do futuro, ou seja, com a enormidade da sua população que continua a crescer acabarão por nos fazer desaparecer como marcador importante da Língua que ambos os países falam. Que algumas palavras brasileiras possam ser adicionadas ao nosso dicionário eu aceito, mas depois de passarem por um crivo bastante fino para acabarmos a achar que "jacarépaguá" pode ser considerado português.
No Brasil ainda sobrevivem alguns indígenas que falam a sua própria Língua, mas quando vão à escola é para aprender português e não outra coisa parecida a que chamam brasileiro. E há muitos brasileiros que falam um português macarrónico, porque nunca foram bons alunos na escola e aprenderam a linguagem de rua. Também há disso, em certas zonas de Londres ou Paris!
Tenham um bom Domingo Gordo e um melhor Carnaval !!!

2 comentários:

  1. Belo texto! Dá gosto ler quem sabe escrever...
    A propósito de linguajares, até aqui, no País onde se fala a Língua de Camões, há vários 'linguajares' consoante a região.
    Aqui para o Norte, além do sotaque - que não vem ao caso - há várias formas de nomear as coisas. Por exemplo: a um pão que pode ser chamado de 'carcaça' no centro e sul de Portugal, aqui chamam 'molete'.
    Carcaças são as 'coroas' como diz o povo brasileiro das mulheres e homens de meia idade.
    Resumindo, creio que não seria por aí que Luís de Camões daria votas na tumba.
    Quanto ao livro...pois, o melhor seria eu lê-lo antes de 'botar faladura'.
    Bom Domingo! 😍

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    1. No Alentejo chamam pão ao trigo que ainda ondula ao vento nas searas que parecem um mar dourado, quando está quase maduro. Aqui na minha terra chamam trigo ao referido molete.

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