sábado, 14 de outubro de 2017

Eu também podia ser «Sousa»!


Acho que já aqui mencionei isso, mas depois de ter lido, no Facebook, um desabafo do Valdemar (filho da escola que mora lá nas antípodas), resolvi voltar ao assunto.
Sousa foi o apelido dos meus antepassados do lado materno, durante dois séculos. Um dos meus avós, de nome Jerónimo, fazia parte dessa lista e deixou fortes referências na terra onde nasci. De tal forma que a minha mãe e avó ainda eram identificadas como fazendo parte da família desse personagem. A Maria e a Rita são do Jerónimo, ouvi eu muitas vezes dizer, quando era miúdo.
Esse facto fez-me deduzir que o tal Jerónimo que eu não sabia muito bem quem fosse, usava o apelido de Sousa, tal como a Rita e a Maria, minha mãe e avó, respectivamente. 
Pois, estava bem enganado! Depois de me meter a estudar a árvore genealógica da família, a fundo, descobri quem foi este meu antepassado, cujo apelido era, na realidade, Ferreira.
Permitam que me desvie um pouco da história da Jerónimo para vos falar da origem do apelido Ferreira. Nos velhos tempos só os homens usavam apelido, as mulheres tinham apenas nome próprio e só um, não dois como agora. Não sei como funcionava nos outros países, mas em Portugal eram os párocos das freguesias que criavam os nomes das pessoas, seguindo velhos costumes, atendendo à vontade dos pais, ou inventando algo que lhe parecesse ajustado. A maioria das mulheres chamavam-se Maria ou Anna e isso criava uma grande dificuldade ao registar as crianças, pois repetia-se muitas vezes o nome do pai e metade das vezes a mãe era Maria, o que deixava poucas alternativas ao abade que já não tinha por onde escolher para evitar a confusão.
Um dia o ferreiro da aldeia apresentou-se para baptizar o filho e o padre perguntou-lhe qual o nome da mãe da criança. Maria, respondeu o ferreiro. Maria tinha sido também o nome da mãe de boa parte das crianças que tinha baptizado nos últimos tempos e assim, para criar alguma diferenciação, registou a criança como filha de fulano de tal e de Maria Ferreira (mulher do ferreiro). Foi ela a mãe e avó de todos os Ferreiras que há pelo mundo.
Esclarecido este ponto, deixem-me regressar à história do meu avô Jerónimo que usava o apelido de Ferreira, o qual herdou do seu pai Manuel Ferreira que veio de fora da minha freguesia casar com uma menina da família Araújo, apelido primeiro dos meus antepassados mais remotos. Com esse casamento mudou para Ferreira, mas durou apenas três gerações. Um neto desse Jerónimo viria a casar-se com um senhora de apelido Souza e este foi o apelido que ela deu aos seus filhos e prevaleceu até chegar à minha mãe, cujo apelido era Alves de Sousa.
Tudo isto para dizer que eu chamava «meu avô Jerónimo» cada vez que via o Jerónimo de Sousa a falar na televisão. Quando ele herdou o lugar do Carlos Carvalhas (aquele que falava axim e parecia ter engolido uma cassete gravada pelo Álvaro Cunhal) e começou a defender o comunismo como se não houvesse outra doutrina no mundo, eu dizia assim:
- Lá está o meu avô Jerónimo a dizer asneira!

1 comentário:

  1. Ah! Grande Jerónimo de Sousa,
    sai dai, cede o lugar a outro
    já ganhaste para uma boa açorda
    à conta deste tão humilde povo!

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