sexta-feira, 2 de abril de 2021

Olha que três!


 Ontem, foi o «Dia das Mentiras» e optei por não publicar coisa alguma, pois poderia ser levado à conta de uma patranha. Hoje, já posso publicar o que quiser, pois ninguém duvidará da minha palavra. Ao escolher o assunto para esta publicação que eu queria que falasse de Moçambique, devido ao imbróglio que lá se vive, desde quarta-feira da semana passada, lembrei-me desta foto, dos dois amigos que posam comigo e das razões que nos juntaram, ou dito de outra forma, evitaram que nos tivéssemos separado para sempre.

O Valter (já falecido), o Licínio e eu tínhamos feito parte da CF2 que fez comissão, em Moçambique, entre Outubro de 1962 e Março de 1965. Regressámos à Escola de Fuzileiros para frequentar o Curso de 1º Grau e podermos ser promovidos a Marinheiros. Acabado este, tornava-se obrigatório pensar no futuro, pois faltavam ainda 6 meses para terminar o nosso período de serviço obrigatório e era pouco provável que nos deixassem sair da Marinha, antes de esse ter terminado.

O Valter foi o elo de ligação e o motivador de tudo. Ele tinha deixado, em Lourenço Marques, um namoro mal resolvido e queria a todo o custo regressar. Isso levou a que ele desse o seu número como voluntário para a formação da CF8 que estava em curso. E como não queria ir sozinho, vá de abordar os antigos camaradas da CF2 e convencê-los a alinhar com ele. E não fomos só os três que nos juntámos, em conjunto devem ter sido cerca de vinte que foram até á secretaria da Escola de Fuzileiros e lá deixaram o nome, esperando seguir para Moçambique e evitar serem mandados para a Guiné, onde a guerra era muito mais difícil e arriscada e para onde foi, alguns meses mais tarde, enviada a CF9.

Já tínhamos passado 30 meses juntos, uma parte no sul e outra parte no norte de Moçambique, e para lá seguimos de novo para passar outros 30 meses, ou quase, para desfrutarmos da companhia uns dos outros e gozarmos a nossa juventude tanto quanto possível. Enquanto que na primeira comissão não havia ainda guerra declarada, em Moçambique, na segunda a coisa fiou mais fino. A Marinha tinha reforçado os seus efectivos na zona de guerra e fomos também obrigados a comer o pão que o diabo amassou, nas matas do Niassa, durante o segundo ano de comissão.

No fim desta, é que não houve modo de ficarmos juntos. O Valter continuava embeiçado com a tal namorada e meteu-se-lhe na cabeça que tinha que casar com ela. O Licínio, por seu lado, não via qualquer futuro na vida civil, em Portugal, mas tinha decidido abandonar a Marinha e portanto decidiu ficar, em Moçambique, como civil, acompanhando o Valter nessa nova aventura. Eu não quis lá ficar (e ainda hoje não me arrependo disso) e voltei para a Metrópole sem eles.

Cada um de nós os três teve a sua vida de maiores ou menores sucessos. Eu passei pela emigração, durante um curto período, até encontrar um emprego estável que me levou até à reforma. Eles regressaram a Portugal, depois de Moçambique se tornar independente e continuaram a sua história. O Licínio já casado e pai de filhos, enquanto que o Valter já divorciado da tal namoradinha com quem acabou por casar, mas cujo casamento não deu certo. Entretanto, o Valter, já encerrou o capítulo da sua passagem por este planeta e e já fez as contas com o Criador, há cerca de 2 anos. Nós, os restantes do grupinho de três, por cá continuamos a dar luta, a doenças de vária ordem, além da Covid-19, para nos mantermos de pé por mais alguns anos.

5 comentários:

  1. A vida dá sempre mil e uma volta... ou será o destino?!

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  2. Longe daqui, onde o perigo espreitava. Daquelas que o inimigo dispava. Felismente, com nenhuma bala, perdida, me encontrei. Mais de três meses dormi em cina do chão duro. Saudades do Rio Lunho não tenho. O mesmo não dirás tu! Visto que os fuzileiros em Metangula dispunham de boas instalaçoes, boa alimentação. Enquanto que, nómada era, o pessoal do Exército sem abrigo!

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    1. E tu não disseste, mas eu acrescento, nós íamos pela água, longe das balas e das minas colocadas em tudo que era picada. Era quase impossível eles, os turras, acertarem-nos com uma bala. E quando íamos a terra era com o máximo cuidado e depois de ter varrido as redondezas com umas valentes rajadas da MG42 para espantar a caça.

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  3. Meu marido esteve na Guiné de Outubro de 65 a Janeiro de 67 quando foi recambiado, tão mal que os colegas diziam que não chegava cá vivo. Não foi ferido em combate, mas teve uma espécie de Paludismo que o deixou internado durante meses. Quando chegou pesava 50kg e ele tinha 1.77. E ainda emagreceu mais 2 kg cá até que os médicos conseguiram dar com a medicação certa. Disseram que não era paludismo mas que era umas febres desconhecidas.
    Abraço, saúde e boa Páscoa

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