quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Literatura Portuguesa não é só Saramago!

Vou já avisando que não li nenhum deles, alguns estudei-os no Liceu, outros já são do tempo em que eu tinha deixado a escola. Mas fiquei tão "afinado" de ver tantos elogios ao Saramago que fui procurar  as escolhas de outros leitores. Li um ou dois livros de cada um dos mais famosos escritores portugueses, como o Eça de Queiroz, o Júlio Dinis, Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Virgílio Ferreira e até Gil Vicente. assim como pequenas coisas de Fernando Pessoa, Miguel Torga e até Florbela Espanca. Isto para dizer que não sou nenhum "expert" em Literatura Portuguesa, mas também não sou totalmente analfabeto na matéria.

Quem gostar do Saramago pode continuar a gostar, pois isso não me provoca diarreia, mas não esqueçam que há outros escritores que merecem o nosso aplauso. E não me refiro ao José Rodrigues dos Santos (embora já tenha lido 2 ou 3 livros dele), mas o que podemos dizer de Augustina Bessa Luís?


O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro (1922)

Integra o Plano Nacional de Leitura como livro recomendado para o oitavo ano de escolaridade. Inicialmente publicado enquanto parte da colectânea Estradas de Santiago (1922), foi lançado como um volume autónomo em 1958 e tornou-se, provavelmente, a obra mais conhecida do autor. Mais tarde, Aquilino Ribeiro viria a juntar-lhe a novela Mina de Diamantes. Em forma de monólogo, o livro conta a história de António Malhadas, mais conhecido por Malhadinhas, um almocreve grosseiro e manhoso, com um sentido de justiça apurado.

Terra Fria, de Ferreira de Castro (1934)

A história passa-se em Terras do Barroso, Trás-os-Montes. O local da acção é a Aldeia de Padornelos, entre montanhas, onde Leonardo procura sustento para si e para a família como jornaleiro. A chegada de um emigrado nos Estados Unidos à aldeia acalenta-lhe a esperança de conseguir ter um negócio próprio e de prosperar, mas rapidamente percebe que ao receber seja o que for perde o sossego na vida e até a mulher. A obra publicada em 1934 foi bem recebida pela crítica, ao conciliar o realismo de quem vive nestas terras e o tom de tragédia.

Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes (1941)

Publicado em 1941, Esteiros é um livro inspirado em personagens reais. Do seu quarto em Alhandra, o autor assistia à vida difícil dos que trabalhavam a recolher barro dos estreitos canais do Tejo. Uma vida condenada à miséria, a troco de um salário que era quase nada. A obra abre com uma dedicatória: “Para os filhos dos homens que nunca foram meninos escrevi este livro”. No fundo, esta é a história de cinco crianças que trabalham por obrigação e o retrato duro de um país votado à pobreza e sem aspirações.

Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira (1953)

À semelhança de Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e Mário Dionísio, Carlos de Oliveira foi um dos pioneiros do neorrealismo em Portugal. O autor queria escrever sobre o mundo e mudá-lo. Neste romance de 1953, de Oliveira faz nascer um amor entre um motorista e uma criada na aldeia de Montouro. O seu casamento é infeliz, como tantos outros, mas vive de aparências. A obra conta as peripécias de Álvaro e Maria dos Prazeres, da sua relação de compromisso que muitas vezes é assolada pelo conflito de paixões e desejos recalcados. O livro traça um retrato ao país triste e isolado, que à altura era vítima do pulso de ferro de Salazar.

O Trigo e o Joio, de Fernando Namora (1954)

É mais um romance neorrealista na lista, este de Fernando Namora, publicado em 1954. "Gostaria de vos contar coisas dessa gente. Coisas da vila, do Alentejo cálido e bárbaro e dos heróis que lhe dão nervos ou moleza, risos ou tragédia. [...] E gostaria de vos falar ainda dos trigos e dos poentes incendiados, dos maiorais e dos lavradores, do espanto dos dias, do apelo confuso da terra, da solidão." É assim que dá início à obra o narrador que se propõe a falar de vidas humildes, unidas por uma história trágica.

Os Amantes e Outros Cantos, David Mourão-Ferreira

A primeira edição deste livro está registada em Maio de 1968, mas só viria a ser publicada uns tempos depois. Como o título indica, a obra reúne vários contos em que o amor e a morte estão sempre presentes. A imaginação toma conta das narrativas, onde a violência e os tabus se entrelaçam na trama. Eduardo Prado Coelho, no posfácio, questiona “Lidos os contos deste livro, saberemos nós designar, achar palavra para o que lemos?”. “Não creio”, responde. E resume desta maneira: “eles, os contos, escrevem-se deliberadamente sobre o vazio desse nome que se esquiva”. Os oito contos escritos por Mourão-Ferreira transparecem a experiência vivida na pele, elevando-o como um dos melhores contistas nacionais.

Leah, de José Rodrigues Miguéis (1958)

Advogado de profissão, foi uma das personalidades que lançou a revista Seara Nova, em 1922. Exilou-se nos Estados Unidos , primeiro por motivos profissionais, e depois devido à oposição ao regime. Em Leah, o autor faz uma crítica severa à situação político-social do país. Apesar de afastado, continuou sempre muito atento ao que se passava em Portugal. As histórias narradas em forma de contos exploram as diferenças culturais dos personagens portugueses e dos personagens estrangeiros, seja nas questões transversais da vida, como o amor, ou apenas no quotidiano dos dias.

Uma Coisa em Forma de Assim, Alexandre O’Neill (1985)

Este livro de Alexandre O’Neil reúne toda a prosa do autor. São pequenas ficções, contos, crónicas, reflexões ou devaneios, onde está sempre presente um carácter biográfico. O autor reuniu em 1985 os textos publicados na imprensa, dando-lhes o nome de Uma coisa em Forma de Assim. Maria Antónia Oliveira, editora do livro, explica-o desta forma: “Na sua escrita leve, clara e irrespeitosa, O'Neill apresenta-nos aqui pequenas ficções, arremedos de contos, crónicas, reflexões e devaneios, alegorias, textos onde se nota uma ressonância biográfica 

Cartas a Sandra, de Vergílio Ferreira (1996)

A obra inacabada de Vergílio Ferreira (1996) abre com uma apresentação assinada por “Xana”, a filha de Paulo e Sandra, personagens do seu romance Para Sempre. As dez cartas que integram a obra são uma espécie de diálogo amoroso do pai da narradora com a sua mãe. Nas suas palavras, Sandra já está morta mas Paulo continua a ter necessidade de lhe falar e de desabafar. Através destas cartas é contada uma história sobre a vida, mas, acima de tudo, sobre a morte e o impacto que ela tem no ser humano. Qual é o sentido da vida? É o que leitor semeia na mente de quem lê.

De Profundis, Valsa Lenta, de José Cardoso Pires (1997)

Cardoso Pires é um dos grandes nomes da literatura portuguesa em perigo de cair no esquecimento. Na verdade, até há bem pouco tempo, os seus livros não eram tão fáceis de encontrar. A D.Quixote, editora nos últimos anos de vida, deixou de os comercializar, até que a Relógio d’Água republicou algumas das suas obras mais conhecidas. De Profundis, Valsa Lenta é uma narrativa emotiva, na primeira pessoa, sobre o acidente vascular cerebral que o escritor sofreu em 1995. O autor descreve todo o processo kafkiano da doença, desde que surgem os primeiros sintomas ao tomar o pequeno-almoço até à recuperação da memória.

2 comentários:

  1. Bom dia
    Ou Portugal não seja um país de escritores e poetas .

    JR

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  2. Valdemar... Literatura portuguesa durante o tempo do Salazar sempre abundou nas escolas. Porém nos anos 60's o que mais influenciava era a leitura do Reader's Digest.

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