terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A desgraça do costume!

 SÓ CHOVE ASSIM DE CEM EM CEM ANOS


1967 foi um ano seco e o Outono também começou sem chuva. Só no início de Novembro é que se começou a verificar uma sequência de dias chuvosos. O geógrafo Francisco Costa, que tem estudado o fenómeno das cheias, não tem dúvidas em afirmar que se tratou de “um fenómeno anormal, excepcional mesmo à escala centenária, de grande concentração de chuva”. Segundo o IPMA, a probabilidade de um evento destes acontecer é de uma vez em cada cem anos.

De Cascais a Alenquer, passando por Oeiras, Lisboa, Odivelas, Loures, Alhandra, Alverca e Vila Franca de Xira, a chuva chegou a atingir os 170 litros por metro quadrado. Em toda a região da Grande Lisboa, a média ultrapassou os 100 litros. Em apenas cinco horas, registou-se um quinto da precipitação verificada no ano inteiro. O pico deu-se entre as 19h00 e a meia-noite.


Ainda não passaram 100 anos, mas S. Pedro ouviu as nossas preces e mandou-nos esta chuvinha para acabar com a seca que trazia o país inteiro em pânico. Foi um bocadinho demais? Foi, mas valeu a intenção, mais vale a mais que a menos. E a tragédia humana, perda de vidas, não tem nada a ver com o que se passou em Novembro de 1967.
Eu estava ainda no Niassa, a preparar as malas para ir passar o Natal no quartel da Machava e rever os amigos (e amigas) que lá tinha deixado um ano antes. Dizem que Oliveira Salazar fez todos os possíveis para que a notícia não extravasasse as fronteiras lusas e, no meu caso, com sucesso, pois só ouvi falar nessa ocorrência depois do 25 de Abril.
Muitas pessoas desapareceram na enxurrada e não se pode saber ao certo quantas morreram, mas calcula-se que tenha chegado às 700. Nada a ver com estas cheias que ainda só levaram uma pessoa (tanto quanto me é dado saber) e só provocaram grandes prejuízos materiais.
Mas isso é o castigo merecido para quem não quer saber de cumprir regras. Construir demais e em sítios proibidos, para além de não serem respeitadas as mais elementares regras de protecção da natureza, em especial a manutenção de todas as linhas de água existentes e a criação de novas, sempre que a situação o aconselhe. Em vez disso, cobre-se a cidade com alcatrão, ou betão, e a água da chuva não encontra maneira de penetrar no solo.
Aguentem e vejam se aprendem alguma coisa com estas ocorrências! As câmaras de todas as autarquias, ao redor de Lisboa (Oeiras, Amadora, Odivelas e Loures) que metam a mão na sua consciência e pensem nos milhões que arrecadaram em Licenças de Construção. IMI e IMT, à custa da construção selvagem e pensem seriamente em devolvê-los, agora, às pessoas que perderam os seus bens nas cheias. Devemos dar graças ao S. Pedro e meter na cadeia aqueles que provocaram esta desgraça.

2 comentários:

  1. Valdemar Alves... As imagens são realmente devastadoras mas tenho a impressão que as cheias por estas latitudes só este ano dariam para alagar a Metrópole toda.

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    1. Acredito, mais que na Nova Gales do Sul só no Bangladesh!

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