sexta-feira, 2 de junho de 2023

Visão futurista!

 


A Christine Lagarde que é a manda-chuva do BCE diz que o mais provável é os juros continuarem a subir (mais um pouquinho), vamos numa viagem que ainda não chegou ao fim. O ministro das finanças do último governo de Sócrates, aquele beiçudo que ajudou a enterrar-nos em dívidas, veio avisar que acha que os juros podem descer 25 pontos base, já na próxima mexida que se adivinha para breve. Um dos dois anda a enganar-nos e eu confio mais na francesa que no beiçudo da Maia.

Hoje, acordei a pensar como seria a década de 60 deste século por contraponto com a do século passado, época em que deixei de ser estudante e entrei no mundo real, aquele em que era preciso levantar cedo e ir trabalhar para garantir o pão-nosso-de-cada-dia. Em Julho de 1960 fiz o meu exame de 5º Ano no Liceu Nacional da Póvoa de Varzim e regressei à aldeia onde nasci e de onde tinha saído com 11 anos de idade. Algumas coisas já tinham mudado muito, havia luz eléctrica em quase todas as casas e a estrada que ligava à sede do concelho tinha sido alcatroada. Os automóveis eram raros ainda, mas havia uma camioneta da carreira que ia e vinha 2 ou 3 vezes ao dia.

Na minha visão futurista que se expandia perante os meus olhos, ainda mal abertos e embaciados pelo sono de que acabara de sair, tudo era completamente diferente. O petróleo tinha passado à História e o combustível que movia o mundo era o H2 retirado da água. Tudo o que se mexia era tocado por este novo combustível obtido através da electrólise da água. Mas, em contrapartida havia menos água que em meados do século XX e esta era guardada como se fosse ouro e traficada como é hoje a cocaína ou heroína. A conversa sobre o aquecimento global andava um tanto esquecida, já que as emissões de gases tinham diminuido significativamente.

Em Portugal, viviam-se duas realidades muito diferentes, a norte do Tejo ainda havia água que dava para os gastos, mas a sul desse grande rio que cada vez deixava mais água em Espanha do que aquela que trazia para Portugal, vivia-se em grande parte de água do mar dessalinizada para o efeito. Ainda se podia passear pelo Gerês e ver a água correr pelas valetas, como foi desde que o mundo é mundo. O nosso governo tinha regulado o uso e aproveitamento da água de forma engenhosa, construindo algumas novas barragens mais pequenas e fazendo transvases entre elas para regularizar os caudais nos períodos mais críticos e nos lugares mais afectados pela seca.

Os sonhos são como nuvens que se movem nos céus com a ajuda do vento. Num instante eu tinha saltado de Portugal para Moçambique e olhava extasiado para o Clube Naval que tinha sido fundado na baía de Thungo, perto do lugar onde, no passado colonial, existiam as oficinas de apoio às lanchas da Marinha Portuguesa. Barcos e barquinhos a perder de vista, turistas de toda a África, da Ásia e da Europa a gozar o sossego e o maravilhoso clima daquele paraíso terreal.

O Lago Niassa é um dos maiores lagos africanos e por isso mesmo um enorme tesouro que tinha calhado em sorte a Moçambique. Na televisão corria o noticiário da hora de almoço e um qualquer político anunciava que o preço da água ia aumentar 10%, pois as negociações com o Malawi e a Tanzânia não tinham terminado da melhor forma e era necessário gerir a fatia de água que coube a Moçambique com o máximo cuidado. Nos últimos 30 anos, o nível do grande lago tinha descido substancialmente e não se previa que as coisas melhorassem no futuro próximo.

Tinha sido construida uma estrada circular que ligava Metangula a Meponda e Lichinga, pelo que era possível fazer uma viagem à capital do distrito via Meponda com regresso via Maniamba. Autocarros faziam a ligação a estas cidades que tinham crescido imenso com o turismo e a viagem que totalizava 240 Kms fazia-se com apenas um litro de água. Nos carros ligeiros um litro garantia quase mil Kms e nos barcos de recreio que se espalhavam pela baía era nulo o consumo, pois uma bomba apropriada cupava a água necessária, extraía o hidrogénio de que necessitava e devolvia o excedente ao lago.

Barcos à vela também existiam, pois velejar era um hábito deixado pelos velhos colonos portugueses que ainda contavam aos mais novos como o Vasco da Gama chegou de Lisboa à Índia sem outro combustível que não fosse o vento. E também kitesurf para os mais radicais que gostavam de armar ao pingarelho e exibir os músculos para garina ver.

Todos os aumentos de preço são um problema e o da água em primeiro lugar, pois sendo cada vez mais rara ninguém podia viver sem ela. Para beber ainda havia a cerveja mas esta era feita com água e não tardaria que o preço subisse também. E para tomar banho e tirar o  cheiro a catinga a água era indispensável. Os sistemas de bombagem que existiam nas margens do Lago eram fiscalizados por uma esquadrilha de lanhas que não parava, dia e noite, e os contrabandistas que carregavam água, serra acima, para os lugares onde a não havia eram cada vez mais e mais atrevidos.

Os três países que circundavam o lago não se entendiam e cada um acusava o outro de usar mais água do que tinha sido estipulado no convénio firmado entre eles. O Malawi, ainda saudoso dos tempos da Niassalândia em que mandava sozinho em toda aquela riqueza, não via com bons olhos a água que Moçambique consumia. Tal como a velha questão das Ilhas de Likoma, eles acham que até bater nas praias moçambicanas toda a água é sua, Moçambique não teria direito nem a lavar os pés sem a sua ordem. Vá lá, vá lá que Portugal ainda conseguir resolver essa quezília, estabelecendo as suas águas territoriais, embora tendo que ceder a propriedade das tais ilhas que ficam dentro das águas moçambicanas.

Bem, como não podia ficar deitado na cama a olhar para o tecto e pensar nestas modernices todas, saltei da cama lavei a cara com água fresca e limpei a mente para enfrentar esta dia 2 de Junho de 2023, pois o ano de 2060 ainda vem longe e já não devo andar por cá nessa altura. A menos que alguém descubra a fonte da eterna juventude e me conte o segredo para eu ir lá beber um trago e ganhar anos de vida!

6 comentários:

  1. Bom dia amigo
    Uma visão muito realista feita com a sua característica muito própria e que dá sempre muito gozo ler.
    Bom fim de semana

    JR

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  2. Meu Deus! Este homem fala de tudo, sabe de tudo e de tudo fala, com o á vontade de peixe na água. Ou sabe mesmo muito, ou finge que sabe e vai deitando ao ar opiniões que só as pode contrapôr quem souber mais do que ele. Como não é o meu caso, cá vou abanando a cabeça em sinal de concordância e, constatando que em muitas das suas frases, há mais poesia do que nos versos dos poetas:

    " Os sonhos são como nuvens que se movem nos céus com a ajuda do vento.".

    Estou certa ou estou errada?

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    1. Talvez esteja certa, mas sou a pessoa errada para emitir opiniões dessas!

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    2. Espero e desejo que não o tenha deixado aborrecido e muito menos magoado, Tintinaine. Não foi de todo essa a minha intenção. Por vezes exagero nas brincadeiras. Futuramente, estarei atenta às minhas palavras quando aqui comentar.
      Bom fim de semana.

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    3. Nada disso, nem aborrecido nem magoado, eu quis apenas dizer que ser ou não ser poeta é coisa para outros decidirem, eu sinto-me 100% prosaico!

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    4. Vendo bem e atentando agora no seu trocadilho com o certo e o errado, talvez que aquilo que eu detectei no 'tom' das suas palavras, mais não tenha sido do que uma ligeira decepção face ao oportuno e brilhante post que publicou. Resumindo: esperava um feedback mais apropriado ao tema que abordou. Sorry!

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