sábado, 4 de novembro de 2017

Velhas tradições !

A salga da sardinha e a matança e salga do porco eram duas tradições bem portuguesas, no tempo em que o frio ainda não era usado para conservar os alimentos, como acontece agora. Ter nascido numa pequena aldeia, talvez me tenha dado oportunidade de viver experiências e conhecer coisas que quem nasceu e foi criado numa grande cidade nunca viu.
Por alturas do S. Martinho, quando as temperaturas outonais já o permitiam, era altura de começar a pensar na salga de carne e peixe para ter o que comer durante o inverno. É bom lembrar que ainda não havia automóveis, nem Pingos Doces e Continentes - o mundo mudou muito nestes 70 anos que levo de vida - onde a gente se pudesse deslocar para fazer compras. Para além de que também escasseava, no bolso da maior parte da população, o metal sonante para o fazer. Era, por isso, muito importante ter alguma coisa na salgadeira a que deitar mão, nas compridas e frias noites de inverno, para meter na panela e preparar uma refeição com que confortar o estômago, antes de ir descansar.


Em 2014 um quilo custava quase dois euros (1,99 euros, quando foram transacionadas cerca de 16 mil toneladas), tendo no ano seguinte ultrapassado em 19 cêntimos os dois euros (14 mil toneladas), ou seja, o preço médio mais elevado dos últimos 20 anos.
Já em 2016 registou-se a primeira descida do preço em seis anos, quando valor se ficou nos 2,06 euros e quando foram transacionados em lota 13,4 mil toneladas.
Nos registos disponibilizados pela Docapesca referentes à semana entre 18 e 22 de setembro o preço médio máximo, encontrado na lota de Matosinhos, era de 3,14 euros, enquanto o preço médio mínimo era de 0,47 euros, registado na Costa da Caparica.
A tabela dos valores de 14 docas nacionais mostram um preço médio de 1,55 euros nesta semana de 2017.
Ao contrário das restantes quotas de pesca, atribuídas pela União Europeia, as da sardinha são geridas e fixadas por Portugal e Espanha, com base nos pareceres do Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (ICES, na sigla inglesa), que tem recomendado uma drástica redução das pescas para travar o declínio do ‘stock’.

E também não havia este tipo de limitações à pesca da sardinha, como se vê agora. Eu bem me lembro de aparecer, lá na aldeia, um camiãozito a apregoar a sardinha, grande e boa para salgar, a «três à croa». Ainda alguém se lembra o que era uma croa (50 centavos de um escudo)? Nessas alturas era deitar a mão ao pé de meia e comprar quantas pudessem para encher a salgadeira.


A segunda coisa a marchar para a salgadeira era o porquinho de casa que vinha a ser engordado para o efeito, desde a primavera. Sempre assim foi e continuará a ser, para uns encherem a barriguinha tem que os outros sofrer as consequências. Neste caso era o porco que via a sua vida sacrificada para dar entre 60 a 90 kilos de carne para salgar e alimentar a família, até passarem os rigores do inverno. Depois disso se pensaria noutra coisa.
E por aqui me fico, esperando ter avivado a vossa memória e aberto o apetite para um almoço bem tradicional, à antiga portuguesa. Pode ser um belo cozido de carnes salgadas com hotaliça!

2 comentários:

  1. Bom eu nunca me lembro de sardinha salgada. Lembro de quando o meu pai matava o porco, de salgar alguma carne. Não muita. Meu pai costumava "curar" os presuntos que depois de tratados eram metidos num saco de tecido muito fininho (para os livrar das moscas varejeiras) e pendurados num dos barrotes do barracão. As chouriças iam para o fumeiro e quando estavam boas, eram metidas num panelão e cobertas de azeite. Era com esse azeite que a minha mãe ia temperando a comida, à medida que as chouriças iam desaparecendo. Os rojões, ou torresmos, eram metidos noutro panelão grande e cobertos com a banha do animal. Depois era só cozer umas batatas, ir lá tirar um rojão para casa um, e aquecê-los na frigideira para que a banha derretesse.
    Também me lembro de que quando os chicharros estavam baratos, meu pai comprava um cento deles. Aqui não se vendia o peixe ao quilo, mas à dúzia, ao quarteirão, meio cento, ou um cento. Então o meu pai comprava um cento, escalava-o, limpava-o e salgava-o durante 3 dias. Depois pendurava-o ao sol para secar como se fosse bacalhau, e só era guardado quando estava bem seco.
    Abraço e bom fim de semana

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  2. Bom dia
    uma boa recordação sim senhor e aqui na minha terrinha um quarto de sêmea também custava uma croa. e quartilho e meio de vinho era vinte sete tostões.
    um bom domingo para todos .
    JAFR

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