domingo, 5 de maio de 2024

Toda a gente teve uma mãe!

 

 

É engraçado como eu só me lembro da minha mãe a correr atrás de mim para me chegar a roupa ao pelo! Algum dia, ela deve ter pegado em mim ao colo, como se vê nesta imagem, mas eu era tão pequeno que não guardo desse momento qualquer memória. Foi a minha avó materna quem fez esse papel.

Tinha ela 54 anos, quando eu nasci, e sendo o primeiro neto (do sexo masculino) e tendo ela apenas uma filha, aceito que ela visse em mim algo especial, por isso eu fui sempre o seu neto preferido. Aos 18, quando fui para Moçambique defender o nosso Império do Ultramar, já ela contava 72 e disse-me, na despedida que talvez não me voltasse a ver.

Mas viu e voltou a ver e já eu era civil, quando foi ela a partir desta vida (descontente). Eu diria que ela foi uma mulher amargurada por ser mãe solteira e apavorada pelo inferno que o padre confessor lhe apontava para lhe dizer que se arrependesse dos pecados cometidos. Pouco antes de morrer, chamou o pároco da freguesia lá a casa e perguntou-lhe se ele acreditava que Deus já lhe tinha perdoado esse pecado, pois temia ir para o inferno. Claro que sim, disse-lhe o padre, Deus é amor e perdão!

O meu irmão Jorge tinha 10 anos, quando ela morreu. Depois de mim, ele foi o neto mais chegado a ela. No ano em que ele nasceu, nós mudámos de casa, de freguesia e de concelho, tinha ele 8 meses de idade. Na nova casa, distribuíram-se as (muitas) pessoas pelos (poucos) quartos existentes. E ao Jorge calhou ficar com a avó.

Ele, agora, está também no céu ao pé da avó, foi o primeiro dos meus irmãos a morrer. Aconteceu num estúpido acidente de mota. Já foi há muitos anos, mas ainda recordo que ele chamava à mãe "Tia Rita" e nunca o ouvi dizer a palavra mãe. Por vezes pergunto-me se ele, como eu, se sentia tão ligado à avó que era para ela reservado o nome de mãe. embora nunca lhe saísse da boca.

Hoje, a minha filha vai cozinhar o almoço para a sua mãe e eu vou de boleia saborear o petisco. Que todas as filhas deste mundo prestem a mesma homenagem às suas mães. Os filhos são um pouco mais desligados desses sentimentalismos, não querendo isso dizer que gostem menos das suas mães. A bem dizer, há de tudo por esse mundo fora, alguns filhos tratam bem mal os seu progenitores!

1 comentário:

  1. Gostei muito de ler e concordo inteiramente com o último paragrafo:
    " A bem dizer, há de tudo por esse mundo fora, alguns filhos tratam bem mal os seu progenitores!
    Beijocas e um bom almoço

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