A minha relação com a macieira!

Gosto de maçãs, é um mal de nascença. O meu torrão natal chama-se Macieira e cedo comecei a trincá-las, as maçãs, e conhecer o gosto diferente de cada uma delas. As verdes, as amarelas, as vermelhas, as riscadas, as mulatas, as duras, as ácidas, as doces, as de casca tão dura que tinha que ser cuspida, depois de mastigada até lhe sair o sumo todo, as cozidas, as assadas no forno (ou no borralho), todas elas passaram pelos meus dentes.

Por falar em dentes, tirei o meu primeiro molar aos 18 anos. Foi durante a recruta na Escola de Fuzileiros. Andei dois ou três dias com uma dor insuportável e mandaram-me ao dentista à Base Naval. O médico deitou o alicate a um e tirou-o cá para fora em três tempos. Depois ligou a broca e atirou-se ao outro que estava encostado ao que saiu e começou o tratamento para desvitalizá-lo. Aquilo foi um tratamento à moda da tropa, parece que ainda sinto o som da broca a ressoar-me no cérebro.

Esses dois desgraçados dentes nunca mais sentiram o prazer de trincar uma bela maçã como aquelas riscadinhas que havia perto de Azeitão, ao subir para a Serra da Arrábida. Vinha pela serra abaixo roubá-las, quando lá estávamos em exercícios. As maçãs foram sempre a minha perdição.

Ainda esta semana fui ao dentista para desvitalizar um dente. Antes de o arrancar, é a última tentativa para o conservar junto dos poucos que me restam. A ver se vou comendo algumas maçãs sem ter que as cozer, pois o gosto é um pouco diferente.

- Ser velho é uma maçada, dizia o velhote.

- Porquê, avozinho, dizia o rapazelho que o ouvia.

- Falta de visão, de audição, de mobilidade, de dentes, de cabelo e de força no pau.

- Pois é, avô, descansa que eu trato disso, agora é a minha vez !!!