domingo, 18 de março de 2018

Bula ou burla ?

Simonia é a venda de favores divinos, bênçãos, cargos eclesiásticos, prosperidade material, bens espirituais, coisas sagradas, perdões, objetos ungidos, etc. em troca de dinheiro. É o ato de pagar por sacramentos e consequentemente por cargos eclesiásticos ou posições na hierarquia da igreja. A etimologia da palavra provém de Simão Mago, personagem referido nos Atos dos Apóstolos (8, 18-19), que procurou comprar de São Pedro o poder de transmitir pela imposição das mãos o Espírito Santo ou de efetuar milagres.
O Direito Canônico também estipula como simonia atos que não envolvem a compra de cargos, mas a transação de autoridade espiritual, como dinheiro para confissões ou a venda de absolvições.
A prática da simonia no final da Idade Média provocou sérios problemas à postura moral da Igreja. O poeta Dante Alighieri condena os simonistas ao oitavo círculo do inferno, onde encontra o Papa Nicolau III enterrado de cabeça para baixo, com as solas dos pés em chama. O exemplo de Nicolau III serve como aviso e previsão aos Papas Bonifácio VIII, o Papa contemporâneo à "Divina Comédia", e Clemente V, seu sucessor, pela prática de tal pecado. Escritores menos devotos, como Maquiavel e Erasmo de Roterdã, também condenaram a simonia séculos mais tarde.
A prática de simonia foi uma das razões que levaram Martinho Lutero a escrever as suas "95 Teses" e a rebelar-se contra a autoridade de Roma. Hoje a doutrina católica, pune com excomunhão latae sentientae, ou seja, automaticamente, a todo e qualquer ato de simonia, que alguns de seus membros vierem a praticar.


Estamos a mais de meio da Quaresma, faltam apenas 14 dias para a Páscoa. Talvez devesse ter abordado este assunto há mais tempo, mas não me lembrei que vós, pobres pecadores, andais ainda mais distraídos que eu. O mundo de agora está uma bandalheira, mas quando eu era pequenote ainda imperava a regra da «Bula», aquela coisa que era preciso comprar para não ficar obrigado a praticar o jejum e abstinência durante a Quaresma. Já não me lembro do preço, mas lembro-me que a minha mãe ia comprá-la sempre com medo de ir parar ao inferno e fazer companhia ao Papa Nicolau III.
O jejum era a regra mais exigente que obrigava os crentes a ficar o dia todo sem comer. Os mais esfomeados esperavam que batessem as 12 badaladas da meia noite e depois atiravam-se à comida como gato a bofe. Se não me engano, aplicava-se a todas as sextas-feiras da Quaresma. A abstinência era uma coisa mais levezinha que proibia a ingestão de carne durante certos dias que eram anunciados pelo pároco das freguesias na missa dominical.
Não se apaga da minha memória a imagem do padre Marques que foi quem me baptisou, a avisar que em todas as sextas-feiras da Quaresma era dia de jejum e abstinência. Um aviso palerma, penso eu agora, pois se em regime de jejum não se podia comer nada, para que servia proibir a carne?
Nas minhas andanças pela internet esbarrei-me com a palavra «simonia» que me era, totalmente, desconhecida. Como é meu costume, fui investigar e aprendi que se chama simonia ao "crime" de trocar favores, como a venda das bulas ou a garantia de entrada no céu, por dinheiro. Como se vê a simonia é um crime e também pecado, de acordo com o Direito Canónico, mas o meu pároco continuava a praticá-lo, durante os meus tempos de infância. A sede ou a falta de dinheiro a isso o obrigavam. Estará, também ele no inferno?


Por causa disso, Martinho Lutero fundou o protestantismo que junta os católicos dissidentes da Igreja Católica Romana e que se contam por muitos milhões. Basta pensar na população da França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, países onde estão em maioria. E ainda pela mesma razão, Dante escreveu a Divina Comédia, famosíssimo poema do Século XIV, em que o Inferno é descrito no primeiro capítulo e foi representado por grandes pintores da Idade Média.
Um bom domingo para todos e ... não comprem a bula!

4 comentários:

  1. bom dia
    hoje não vou comer carne , mas não vou fazer nenhum sacrifício , pois gosto mais até dumas lulas grelhadas do que qualquer naco de carne de vaca .
    JAFR

    ResponderEliminar
  2. Se eu me lembro bem de passar por isso, nasci numa família católica praticante, a minha mãe não falhava a missa dos domingos, confessava-se sempre que podia, até ao dia em que ajoelhada do lado de fora do confessionário, um padre novo na paróquia lhe pergunta se alguma vez tinha negado fazer sexo com o meu pai, eu era ainda criança mas lembro-me dela estar ainda a tremer e a contar ao meu pai, o padre disse-lhe que era um grande pecado negar uma coisa dessas, ela levantou-se, saiu da igreja e até morrer nunca mais foi à missa nem se confessou, eu ainda fiz a comunhão solene, mas nunca mais me mandou ir à missa, foi um padre que acabou com os hábitos religiosos lá em casa! Coisas da vida.

    ResponderEliminar
  3. Eu que não sou vegetariano. Como carne quando a tenho. O mesmo acontece com o peixe. Cada um faz como bem entender. Não critico os que pela religião o fazem. Como não fui habituado a frequentar a igreja. Vou à missão de quando em vez. Os padres não são objectos são homens. As freiras deviam ser as mulheres dos padres?

    ResponderEliminar
  4. O Eduardo tem razão: as freiras deviam ser as mulheres dos padres. Pelo menos podiam trabalhar em conjunto... e uma vez com 'a mão na massa' sugiro que comecem a ler o livro sagrado DA RELIGIÃO DA PAZ. O Martelo Beija-Flor quer 'a Alma Portuguesa' de volta...

    ResponderEliminar