domingo, 23 de novembro de 2025

A minha viagem à Suíça!

 


Com as primeiras neves a pintar os telhados de branco, o aspecto da cidade de Genéve deve ser mais ou menos como mostra esta imagem. Por debaixo dos telhados há corações quentes e mentes exaltadas, em especial hoje, pois ali se vai tentar decidir o futuro de um povo e de um país que não quer viver debaixo de um jugo comunista. Os cabeças-grandes da Europa vão estar reunidos com o presidente da Ucrânia, a quem o Trump e o Putin deram 100 dias para abandonar o cargo que vem desempenhando, e bem, nos últimos 3 ou 4 anos. Veremos o que eles estarão dispostos a fazer para contrariar um destino que parece já traçado e inevitável. 

Este encontro dos políticos envolvidos na governação do mundo fez-me recordar uma viagem que fiz, nos fins de 1978, para tirar o meu filho (então com 17 anos) dum imbróglio em que se metera sem eu perceber como. Ele tinha-me pedido 40 contos para ir para a Suíça procurar um trabalho. Dizia que um amigo lhe arranjaria trabalho e que um outro amigo lhe organizaria tudo, compraria o bilhete de avião e o de comboio, até chegar à cidade em que vivia o amigo que o hospedaria até normalizar a sua vida.

Lá lhe dei os 40 contos, não sem antes ter visitado o outro amigo, armado em passador, que vivia aqui na Póvoa. Nada me pareceu suspeito e lá o deixei partir, todo contente à aventura. Depois de aterrar na Suíça deveria ser uma irmã do passador a tomar conta do meu filho, comprar-lhe o bilhete de comboio e dar-lhe todas as instruções necessárias para chegar à pequena cidade em que morava a família que o ia acolher.

Isto ainda foi antes da era dos telemóveis e os contactos não eram tão fáceis como agora, mas o seu amigo, antigo colega das carteiras da escola, tinha-lhe dado um número de telefone para onde ligar, no caso de se ver à rasca. E ele lá conseguiu ligar e receber instruções para chegar à estação de comboios e comprar um bilhete até ao destino previamente combinado, onde o seu amigo, acompanhado pai, o foi buscar umas horas depois.

Resolvido este primeiro contratempo e esquecidos os 40 contos gastos numa vagem de avião, fiquei a perceber que não seria assim tão simples encontrar um emprego e ganhar uns francos para pagar a sua hospedagem. Calhou de nessa altura eu ter viajado para Milão para visitar alguns fornecedores que viviam naquela zona dos Alpes, entre a França e a Suíça. A caminho da cidade, onde tinha planeado dormir naquela noite de sábado, passei por um sinal de trânsito que indicava o túnel do Monte Branco a uns poucos quilómetros de distância.

Achei que era o destino a empurrar-me para o lado do meu filho e tirá-lo da encrenca em que se metera. Guinei o volante para a direita e lá fui eu a caminho do túnel mais famoso da Europa. Pagar a portagem e alinhar na bicha de carros e camiões que seguiam para França foi simples, o pior viria ao sair do túnel, onde eu teria que virar à direita para entrar na Suíça e todos os caminhos estavam fechados por motivo da queda de neve. Fui obrigado a seguir sempre em frente, até chegar a Genéve, a tal cidade onde os crânios europeus estão, hoje, reunidos para encontrar um modo de ajudar o presidente ucraniano.

Era já noite alta, quando ali cheguei e depois fui obrigado a bordejar todo o Lago Leman até entrar na Suíça. Conforme ia vendo os quilómetros que me separavam do destino a diminuir e os ponteiros do relógio a avançar a minha preocupação aumentava. A que horas chegaria ao destino? Onde arranjaria dormida àquela hora? Dormir no carro era impossível com a temperatura alguns graus abaixo de zero!

Às tantas dei com um letreiro do que parecia uma pensão e fui tocar à porta. Atendeu-me uma velhota resmungona e cheia de sono, embrulhada em abafos de lã, que me disse: - isto são horas de chegar, nós fechamos à meia noite! Mas lá me deu uma chave e indicou um corredor, onde encontrar o quarto que que fora destinado. De manhã, o pequeno almoço foi servido por uma moçoila portuguesa que ficou contente por trocar umas palavras com alguém na sua Língua materna.

Depois de reconfortado o estômago, lá retomei o caminho em direcção à pequena cidade em que o Sr. Nunes, pai do amigo do meu filho, trabalhava numa fábrica de automóveis, e onde exercia já funções de chefia. Almocei em casa dele e discutimos a situação do meu filho, para decidirmos o que fazer com ele. Estes rapazes novos não pensam, para eles é tudo fácil, disse ele. Referia-se aos seus dois filhos, amigos de brincadeira e da mesma idade do meu rapaz. Não acredito muito que ele consiga arranjar aqui um trabalho que valha a pena!

E assim ficou combinado que ele o meteria num voo para o Porto na primeira oportunidade e depois faríamos contas. E, antes que se fizesse noite, nesse longínquo domingo de 1978, guiou-me até uma rotunda, à saída da cidade, onde começava a sinalização para o outro túnel, o de S. Gotardo que liga a Suíça à Itália. Estava um lindo dia de sol e as vistas até à entrada do túnel - que em grande parte do traçado nem túnel é - eram fantásticas com uns poucos farrapos de neve a enfeitar os penhascos ao lado do caminho.

Em menos tempo do que me leva a contá-lo, já estava em estradas italianas e com os sinais de trânsito numa Língua mais conhecida. Sempre guiado pelos mapas, imensos, que levava sempre comigo, lá fui à procura do hotel em que tinha dormida reservada para essa noite. Enganei-me uma vez no caminho, encontrei também uma rua fechada por causa da neve, mas por fim lá cheguei ao meu destino, arrumei o carro no parque e fui à procura de qualquer coisa para aconchegar o estômago que já roncava de vazio que estava.

Não sei quem estará presente, em Genéve, em representação da Europa. Talvez o Costa e a Srª Von der Leyen, ou a Kaja Callas. E, claro, alguém em nome da Alemanha, da França e do Reino Unido. Do lado da Nato não deve estar ninguém, pois só complicariam a conversa que se quer de paz e o negócio será encontrar um caminho para lá chegar. Espero que o consigam, tal como eu consegui trazer o meu filho de volta a casa. O Sr. Nunes pagou-lhe a viagem de regresso e quando o encontrei, uns meses depois, no tempo de férias, e quis fazer contas com ele,  a resposta que recebi foi: esquece lá isso! 


Caminhos de ida e volta!  

1 comentário:

  1. Uma odisseia valente e cansativa!
    OTrump voltou a fazer um acordo de paz num dia a favor do carniceiro mas já mudou e vamos a ver o que sai dessa reunião.
    Tanta reunião, pareceres, promessas etc e o loiro ainda não percebeu quem é o invasor e o invadido!
    Enfim amigo tanto dinheiro gasto e muitos que tanto precisam!
    Beijos e um bom domingo!

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