quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Pode ser velhice ... ou não!

 


Levanta a cabeça, endireita essa coluna, pareces um velho!

Isto grita-me a minha parceira, da maratona em que participamos, desde 1968, e eu faço-me de surdo e não ligo ao que ela diz.

Mas regresso à minha infância e vejo-me sempre de cabeça baixa, como que envergonhado de ter vindo a este mundo sem pedir licença a ninguém. Se me perguntavam porque andava eu sempre a olhar para o chão, eu respondia: -  é para ver se encontro alguma moeda perdida.

Quando estive no Colégio dos Jesuítas, como aluno interno, havia um padre que me dizia: - deves ter muitos pecados, tantos que não te deixam levantar essa cabeça! E um outro padre que foi, durante algum tempo, o meu director espiritual (alguém sabe o que isso é?), e me dizia: - não te importes com o que ele diz, cada um sabe de si, só Deus sabe de todos!

E depois, durante dezenas de anos, fui obrigado a trabalhar, sentado numa cadeira e com a coluna dobrada a escrever e manusear papéis que me garantiam o salário ao fim do mês. Quando penso nisso, até me admiro de não estar mais "marreco"!

Havia um rapaz, meu vizinho aqui do bairro onde moro, alguns anos mais novo que eu e que já morreu, há séculos. Mergulhou nas drogas, a fundo, e em poucos anos afundou-se mesmo. Pois esse rapaz andava com a coluna tão esticada que parecia ir cair para trás, a qualquer momento. No meio está a virtude - dizia uma velhota que conheci e eu sei bem ao que ela se referia - nem a cair para trás, nem para a frente, bem equilibrado é que é bom.

O equilíbrio é fundamental em tudo na nossa vida - ainda há dias ouvi o Mário Centeno dizer que o segredo é ter contas equilibradas, seja lá isso o que for - nunca exagerar para um lado ou para o outro. Há coisas que nós não conseguimos controlar, mas naquilo que está ao nosso alcance devemos ir com o máximo cuidado para não cair à primeira rajada de vento.

Ontem, ao fim da tarde, saí de casa para ir ao barbeiro. É uma caminhada de menos de 500 metros para cada lado, mas senti-me inseguro e a oscilar de um lado para o outro do passeio. Será dos sapatos que têm uma sola muito maleável, pensei eu. Ou será que o meu sistema nervoso central já foi afectado pela Diabetes que me acompanha, há mais de 20 anos? Na próxima vez que sair de casa levarei a bengala comigo, para me ajudar a caminhar em linha recta.

Uma criança, no segundo ano de vida, começa a caminhar com passinhos inseguros e a cada passo cai e volta a levantar-se. Nada de preocupante, é assim mesmo que as coisas são, os trambolhões servem para aprender a equilibrar-se e cada vez cai menos vezes. Mas com os velhotes é ao contrário, se caem partem-se todos e sem ajuda de outrem têm grande dificuldade em levantar-se. E, conforme a vida vai andando, cada vez caem mais e um dia não serão capazes de se levantar. É o fim da corrida em que o Criador lhes permitiu participar!

2 comentários:

  1. Nota máxima para estas suas lembranças e coragem de as partilhar, Tintinaine. Também fui uma criança tímida, mas nunca baixei a cabeça.
    Pelo contrário, mesmo sem ter muito de que me orgulhar, o meu orgulho fez de mim uma miúda/jovem/mulher adulta, um pouco altiva e refilona. Provavelmente como medida de protecção e segurança, sei lá!

    Também sou diabética controlada, mas hoje, após uma consulta externa no HSJ no Serviço de Oftalmologia, vim de lá com a alma renovada.
    Após uma série de exames em que soube estar com tensão ocular 10- olho direito e 11 - olho esquerdo, ou seja, melhor do que nunca, tive a grata notícia de ouvir da boca do meu jovem médico que estou com a visão de uma moça de vinte anos...uma simpatia aquele Dr. J.T... 🤭

    Quanto ao filme antiguinho do "Corcunda de Notre Dame" em que a Gina e o Anthony estavam no apogeu das suas carreiras, também o vi e claro, quem não?
    Um abraço!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Li agora o que escrevi de manhã e achei um pouco confuso, ter misturado oftalmologia com a diabetes. Na verdade, o que deu origem a tal foi o facto de anualmente ser chamada ao CS da minha zona para fazer o rastreio de retinopatia diabética. Nunca dizem nada e desta vez traziam um aviso para que a minha médica de família me encaminhasse para um oftalmologista. Ora como já sou seguida desde 2009 porque tive glaucoma, não liguei nada, mas agora falei nisso ao médico do HSJ.
      Resumindo e concluindo, daí eu ter mencionado a tensão ocular.
      Pronto, está esclarecido e desta vez ainda não serei dada como taralhouca por quem vem ler este espaço...

      Eliminar