quinta-feira, 23 de março de 2017

A cidade luz!


Assim chamada por ter sido dali que saíram as ideias modernas do pensamento humano. Depois dos grandes filósofos gregos da Antiguidade Clássica, foram os filósofos franceses do Século XVIII a marcar a cultura mundial. Acho que todos sabem isto, não estou a contar novidade alguma.
Mas a mim Paris interessa-me por outras razões. Esta cidade francesa era uma espécie de placa giratória, na década de 60 do século passado, para a emigração portuguesa e eu, como muitos milhares de outros portugueses, também por lá passei. E essa década foi marcante na minha vida, durante esses dez anos aconteceu tudo aquilo que estabeleceu o que seria a minha vida, até aos dias de hoje.
Em 1960 conclui os poucos estudos que os parcos haveres dos meus pais me puderam pagar.
Em 1961 arranjei o meu primeiro emprego, na Indústria Têxtil, a maior empregador da minha zona de residência.
Em 1962 mandei esse emprego às urtigas e alistei-me na Marinha de Guerra Portuguesa, como voluntário.
Ainda antes de 1962 terminar já eu estava em Moçambique, de G3 em punho, pronto para defender a Pátria, como me era exigido pelos políticos e interesses económicos de então.
Em 1968 regressei de Moçambique, felizmente sem uma beliscadura no meu físico, e abandonei a Marinha.
Ainda nesse mesmo ano arranjei o meu segundo emprego, desta vez na Indústria de Cordoaria, o maior empregador da Póvoa de Varzim, e comecei enfrentar a vida por conta própria. Até ali sempre tive cama e mesa garantida, primeiro na casa paterna e depois na Marinha.
E ainda antes de terminar o ano de 1968 casei-me e dei a machadada final na minha liberdade de movimentos e decisões.
Em 1969, já farto da indústria das cordas que não me pagava o suficiente para alimentar a mulher e a filha entretanto nascida e meti os pés a caminho da emigração.
E foi nesse célebre ano (para mim, claro) de 1969 que me vi, pela primeira vez, debaixo da Torre Eiffel.
E antes de esse ano terminar ainda arranjei emprego num navio de bandeira panamiana que do porto de Antuérpia se preparava para zarpar para o Cairo. Um salto da Marinha de Guerra para a Marinha Mercante, como podem ver.
Mas continuar na Marinha não foi o meu fado e no dia seguinte, por razões que levaria muito tempo a explicar, desembarquei e pus-me a caminho da Alemanha, país onde vi chegar o ano de 1970.
Depois de 1969, várias vezes estive debaixo da famosa torre de Paris, mas nunca consegui subir lá acima para desfrutar da linda vista que a imagem acima documenta. Longas bichas de interessados, como eu, que se moviam a passo de caracol, assim como o meu tempo sempre limitado por afazeres profissionais, não me permitiram satisfazer esse desejo.
E agora acho que já é tarde para voltar a pensar nisso, além de que as bichas são cada vez maiores (segundo tenho ouvido dizer).
Pou moi ... Paris c'est fini!

3 comentários:

  1. Gostei de teres partilhado connosco os teus passos fora da marinha, que eu desconhecia! Mas meu amigo, nunca digas Paris c´est fini, pour toi, ainda pode acontecer, (O destino marca a hora), será difícil subir a Torre, as ainda podes passar em Paris, estás entre nós, fazes parte do nosso mundo.

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  2. Ainda por cá vou andando. Gostei de ler o que aqui escreveste. Referente às tuas viagens pelo mundo. Não culpes o casamento de te ter roubado a liberdade. Sem ele não tinham nascidos os rebentos que dão continuidade à tua geração. Também já passei ao lado da Torre Eiffel, em 1989, não como turista, nem como emigrante, mas sim como pendura viajante. Diz-se pendura ao passageiro que vai ao lado do motorista que conduz o camião TIR e não só. Que por acaso era e é meu cunhado. Fui com ele até á Holanda, e com ele voltei, pois se não tivesse voltado, não o estaria aqui dizendo. Em 2002, voltei à França como turista não pendura, conduzindo a minha própria viatura. Abalei da Póvoa de Santa Iria, pelo ponte Vasco da Gama, direcção a Elvas Badajoz á vista. Via Madrid, zaragoza, Barcelona, Marselha- Toulon-cote d'azur. De onde após ter permanecido 8 dias, segui para a casa da minha irmã, na zona de Besançon. Andei por lá 15 dias, vi muitas coisas bonitas, mas não mais bonitas do que o meu pais, onde bem me sinto!

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  3. Olha gostei! Ponto final. Em poucas palavras descrevestes o teu currÍculo (e)migratório, laboral, amoroso, familiar e por fim como filho pródigo voltaste às origens. Porém, safaste-te em não teres sido vendido 17 vezes como Fernão Mendes PInto. Como tu ainda não fui vendido e, como tu também, quero continuar a ser um bom - FILHO-PRÓDIGO...

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