domingo, 30 de outubro de 2016

Um homem com eles no sítio!

Não sou muito de andar pelos cemitérios no dia de Todos-os-Santos. Há muita gente a mais, não se arranja um estacionamento a menos de 1000 metros do portão do cemitério, enfim, é uma confusão de que fujo a sete pés. Assim sendo, aproveitei o dia de hoje para ir fazer uma visita que há muito tinha na ideia, à campa do meu bisavô materno João José, falecido há cerca de cem anos. Mas deixem-me contar a história, começando pelo princípio.
Ele era filho de mãe solteira e sabe Deus quantos engulhos isso lhe teria colocado no seu caminho. Acontece que as voltas da vida fizeram com que ele tivesse engravidado uma moça menor de idade e quando o filho nasceu apresentou-se com ele na igreja para ser baptizado, coisa pouco comum naquela altura, em que havia filhos de pai incógnito ao virar de cada esquina.
Imagino a cara do pároco da freguesia perante uma situação tão pouco comum. Aquilo a que ele estava habituado era apresentar-se a mãe que, ao ser questionada sobre quem era o pai da criança, optava por dar o seu nome ou mantê-lo incógnito, coisa que o pároco mandava registar no assento de baptismo para que constasse. Pois aqui foi tudo ao contrário, apresentou-se o pai que disse quem era a mãe e assim ficou registado para chegar ao meu conhecimento, nos dias de hoje. Leiam o assento de baptismo que me dei ao trabalho de passar para um estilo capaz de ser lido por toda a gente e vejam se não tenho razão.

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Outra coisa que eu imagino também é o sermão que o pároco da freguesia lhe deve ter dado sobre qual era a sua obrigação, o que o fez lá voltar, seis meses mais tarde, com a namorada pela mão, pedindo ao padre que os casasse. E depois das habituais palavras - eu vos abençoo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não separe o homem aquilo que Deus uniu - ficou tudo na paz do Senhor e cada um seguiu com a sua vidinha como se nada tivesse acontecido. Dois anos depois destes acontecimentos, nasceu  um segundo filho, de seu nome António, que viria a ser o meu avô, pai da minha mãe e dela nasceu esta rica prenda que vocês já conhecem.

3 comentários:

  1. O homem fez bem, pelo menos o seu filho sabia quem era o pai. Não iria, portanto, chamar pai a outro que seu pai não era. Mas, se esse senhor não tivesse tido a coragem que teve. Se calhar esse seu filho, teria sido baptizado como filho de pai incógnito. Porque se calhar a mãe, devido à situação não tinha tido a coragem que o pai da criança baptizada teve?

    Homem de barba rija,
    com eles lá no sítio
    Sr. padre não se aflija
    este garoto é meu filho!

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  2. Nessa época era assim, quase todos os tinham no sítio porque havia respeito, até por pessoas que não conheciam de lado nenhum, penso que tudo isso acabou na geração "grisalha", como o outro sanguessuga nos chamou e sinto muita pena e revolta de como o ser humano se tornou no mundo inseguro actual.

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  3. Boa noite.
    Regressei hoje dos antipodas.
    Conta comigo, para os habituais coments.
    Aquele abraço.

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