segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

O meu "Eu" desconhecido!

 Eu já fui e fiz muitas coisas, nos últimos 80 anos. Fui bebé, criança, adolescente, antes de ser adulto. Fui marinheiro, sem navegar, mandaram-me para o mato para lutar, andei na guerra até me cansar. Já fui escritor (de cartas para a namorada (a maior das quais tinha umas incríveis 17 páginas), artista de teatro e outras artes que prefiro não revelar, poeta também mas sem sucesso e, por fim homem casado e pai de filhos.

À moda nova, poderia dizer que, agora, sou um "criador de conteúdos", pois esta vida de bloguista não é outra coisa senão isso. Há quem grave 3 minutos no Tik Tok e já se considere isso mesmo, o que eu faço demora muito mais de 3 minutos e, segundo a minha qualificação, vale dez vezes mais. Em imagem nem por isso, mas em prosa e verso tenho-me esforçado q.b. para granjear o apoio e aprovação de quem me lê. O meu público-alvo é gente da minha idade, infelizmente, gente pouco habilitada nestas coisas das modernas tecnologias, por isso nunca me tornarei muito famoso. 


Esta rara introdução serve apenas para trazer à baila o nome de Gil Vicente, o dramaturgo português que me fez artista de teatro. O "Auto da Barca do Inferno" foi a primeira peça teatral que representei. Não me deram um papel principal, não que não o merecesse, mas porque havia outros com padrinhos mais poderosos que o meu. Tudo aconteceu até aos meus 16 anos, idade em que deixei de estudar e me vi forçado a entrar no mundo do trabalho para ajudar no orçamento familiar para 15 pessoas.

«Entre suas obras estão "Auto Pastoril Castelhano" (1502) e Auto dos Reis Magos (1503), escritas para celebração natalina. Dentro deste contexto insere-se ainda o Auto da Sibila Cassandra (1513), que, embora até muito recentemente tenha sido visto como um prenúncio dos os ideais renascentistas em Portugal, retoma uma narrativa já presente na General Estória de Afonso X.[6] Sua obra-prima é a trilogia de sátiras Auto da Barca do Inferno (1516), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519). Em 1523 escreve a Farsa de Inês Pereira

Como já sou um respeitável octogenário, já estou na bicha para embarcar na Barca (Caronte), por conseguinte terei um novo papel na representação da minha própria história. Não é que anseie por essa representação, preferia dar a oportunidade a outro, mas há coisas na vida que não podemos recusar e a morte é uma dessas. Daqui a uns dez anitos voltarei a abordar o assunto. Posso?

Mas, além do Gil Vicente, dramaturgo português do século XVI, há o Gil Vicente clube de futebol de que sou sócio pagante (sim, porque não vou ao estádio mais que duas vezes ao ano). E O Gil jogou, ontem à noite, com o FCP e derrotou-o por 3 bolas a 1. Isto não podia ser melhor para um benfiquista como eu, pois ganhei a dois carrinhos, o Gil subiu 3 pontos na classificação geral e o Porto ficou a patinar, deixando o Benfica passar-lhe à frente.

Isto motivou uma reunião de emergência, no Dragão, e teve como resultado o despedimento do treinador. É um clássico, quando uma cadeia se parte é sempre pelo elo mais fraco que no futebol é o treinador. Despedir todo o plantel ou a Direcção do Clube (que por vezes seria o mais acertado) não é viável, portanto, despede-se o treinador e fica tudo resolvido. Ou não!

2 comentários:

  1. O título ficou e a primeira ida a um Teatro também... Devia ter uns 14 anos quando fui com os meus velhotes ver o 'Auto da Barca do Inferno' ao Teatro da Trindade não muito longe do Bairro Alto. Escusado será dizer que os bilhetes foram de borla.

    ResponderEliminar
  2. Para mim, quem me tira o "Auto de Inês Pereira" tira-me os primeiros passos, tira-me a infância, a adolescência e o cerne da minha vida feliz e descuidada...
    "Antes quero burro que me carregue do que cavalo que me derrube"
    Cem anos que eu viva e jamais esquecerei esta máxima.

    Boa semana!

    ResponderEliminar