14 Obras da Misericórdia
As 14 Obras da Misericórdia
Obras Corporais:
1ª Dar de comer a quem tem fome;
2ª Dar de beber a quem tem sede;
3ª Vestir os nús;
4ª Dar pousada aos peregrinos;
5ª Assistir aos enfermos;
6ª Visitar os presos;
7ª Enterrar os mortos.
Obras Espirituais:
1ª Dar bons conselhos;
2ª Ensinar os ignorantes
3ª Corrigir os que erram;
4ª Consolar os tristes;
5ª Perdoar as injúrias;
6ª Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo;
7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos..
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Transcrevi da internet o texto acima e preferi deixá-lo tal como veio sem o reformatar, como faço a tudo.
Hoje acordei a pensar na minha namorada Isabel, a quem tratava por Belita, que por ordem alfabética foi a minha segunda namorada, depois da Alda que passou na minha vida como um foguete. Nem sei como me lembro dela de tal forma o romance foi rápido e sem muito contacto físico, como já vos contei.
A Belita foi diferente, muito diferente! Conheci-a antes de ter feito 20 anos e ela levava-me uns bons 5 de avanço, ou seja, onde eu era ainda um aprendiz que procurava aplicar-me a sério em todas as matérias, ela era uma professora que sabia despertar o interesse do aluno pela matéria, cujo ensino tinha a seu cargo.
Se houve uma namorada que teve impacto na minha vida foi ela. Perita em observar a religião católica nos seus mais insignificantes pormenores, ela praticou comigo as obras de misericórdia, para ganhar o direito ao paraíso. Não sei nada dela há muitos anos, a última vez que me deram notícias (por altura da crise dos retornados de África) dela, soube que morava em Londres.
Eram ainda tempos do Apartheid, na África do Sul, e sendo ela mulata não sei como foi inserida na sociedade inglesa. Ela era professora de profissão e pode ter arranjado uma colocação nessa área, mas conhecendo os britânicos e o sentimento que nutriam pelos negros da África do Sul tenho as minhas dúvidas. Talvez em alguma escola particular destinada aos súbditos da rainha Elizabeth com a pele mais escura.
Mas isso agora não interessa nada, eu já era casado e pai de filhos, quando essa notícia chegou até mim, e não ia pôr-me à procura dela para reatar o romance, há tantos anos interrompido pelo meu regresso à Metrópole. Ela tinha seguido à risca o que reza o catecismo, no caso das Obras de Misericórdia - Corporais.
Logo no nosso primeiro encontro ela cumpriu a primeira - dar de comer a quem tem fome e no nosso último encontro, em Fevereiro de 1968, foi a sexta a ser cumprida - visitar os presos. É verdade, o maldito 2º Comandante da CF8 tanto tentou que conseguiu engavetar-me durante 15 dias, nas vésperas de regressarmos a penates, depois de cumprida a minha segunda comissão de serviço, em Moçambique.
Estava eu atrás das grades, quando a Belita chegou a Lourenço Marques. Eu já tinha gizado um plano para estar com ela durante essas férias de Carnaval. Aproveitando a coincidência de estar de Cabo de Quarto (serviço prestado na Marinha por um cabo que fica responsável por tudo que acontece na Unidade, entre as 8 da noite a as 8 da manhã) o meu amigo Enteiriço, alentejano de boa índole que o Criador já levou para junto dele, há mais de uma dúzia de anos, pus o meu plano em execução.
Escrevi uma carta à Belita e dei-a ao Enteiriço para ele a levar à cidade e entregar à destinatária. Ele tinha um carro comprado em 4ª ou 5ª mão que não era nenhuma máquina, mas servia para o efeito. Ele estava de serviço e teria que arranjar um camarada que o substituísse enquanto ia cumprir a missão. Ele não entendia uma única palavra de inglês e tudo teria que ser feito na base da mímica.
Hora do recolher na caserna, já tudo dormia e os sargentos e oficiais estavam recolhidos nas suas messes, onde funcionava o ar condicionado, 24 horas por dia, e um uísquesito com 3 pedras de gelo na mão, se não tivessem já decidido esticar-se ao comprido e entregar-se nos braços de Morfeu. Era hora de o alentejano-amigo entrar em acção. Últimas recomendações para que nada falhasse e carta na mão para que ele tivesse bem presente a missão a cumprir.
Ele conhecia a miúda pessoalmente e só tinha que ir à residencial, em que ela ficaria durante a semana de férias, e dizer "letter from Carlos", como bom papagaio treinado por mim. Na carta eu dizia que ela podia confiar no Enteiriço como se fosse eu próprio e que deveria segui-lo, pois ele a traria até mim.
E assim foi, correu tudo tão bem que, muitos anos depois, o Enteiriço ainda me dizia, "ela leu a carta e 5 minutos depois já rolávamos a caminho da Machava" e ainda " eu nunca acreditei que ela viesse e fiquei pasmo, quando ela saiu pela porta fora agarrada no meu braço". Aquilo parecia um filme ao jeito do 007 que estava em voga naquele tempo.
Ele retomou o lugar do camarada que o substituíra e foi buscar a miúda que ele, por gestos, mandara ficar quietinha e caladinha, dentro do carro. Meteu a chave na porta da prisão, abriu-a e enfiou a miúda lá dentro à pressa, antes que alguém o visse. Chave rodada em sentido inverso e lá foi ele para o seu retiro, sempre de pistola Walther no coldre que lhe garantia a autoridade inerente ao cargo que desempenhava.
Três ou quatro horas depois, a viagem em sentido inverso. a Belita com o coração aos saltos, seja pelo acontecido nas últimas horas, dentro daquela prisão, ou por medo de ser apanhada em infração e ficar também ela presa e entregue às autoridades de um país que não era o seu. Mas tudo correu conforme planeado e ela acordou na sua caminha na manhã seguinte.
Antes do regresso à Cidade do Cabo, ainda colocou uma carta no correio que eu recebi antes de ela chegar ao seu destino. E foi a última vez que a vi, de lá para cá ela vive apenas nas minhas recordações! Onde quer que estejas, Belita, be happy!!!
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