Faz hoje 56 anos a cegonha veio a minha casa trazer um bebé que eu tinha encomendado em Outubro de 1968. Nesse tempo ainda não se sabia se era menino ou menina e havia roupas de todas as cores, em especial branco, preparadas para vestir a contento o bebé, logo que ele chegasse. A mim calhou uma menina que era, exactamente, o que eu tinha desejado. Um tanto egoisticamente, pensando que a filha, logo que passasse dos 12 anos, seria capaz de tomar conta de mim se a mãe, por qualquer razão, estivesse impossibilitada.
Para meu azar ela não saiu grande dona de casa, vive para a profissão que abraçou e prefere ir ao Take away em vez de cozinhar. Ser professora não é tarefa fácil! Lembro-me bem do antigamente em que os professores trabalhavam só meio dia, porque o outro meio era para corrigir provas, preparar a próxima aula ou dar avaliação aos alunos. No fim trabalhavam mais que qualquer outro trabalhador e eram compensados nas férias de verão que também eram mais longas que as dos outros.
Agora não é nada disso, quem manda abusa do poder e espezinha os direitos dos professores. No caso da minha filha, ela passa o dia quase todo na escola - horas sem fim de reuniões ou acções de formação, há de tudo um pouco - e em casa trabalha até à meia noite para dar conta do recado. A vinda dos computadores só complicou a coisa, pois a papelada a que a obrigam é qualquer coisa de anormal. Trabalha para satisfazer a sua escola e quem nela manda, para a direcção regional e para o ministério da educação.
Em vez de serem as instâncias superiores a alinhavar e enviar aos professores trabalhos pré-fabricados para facilitar e uniformizar o exercício do ensino, funciona tudo ao contrário, obrigando os professores a preencher fichas e questionários que eu duvido sejam lidos por alguém. Acho que é uma rotina inventada no sistema de "capelinhas" para justificar a existência de quem lá manda.
O congelamento de carreiras que vigorou durante anos - não sei quem foi o inventor, mas o Costa manteve-o enquanto pôde para poupar dinheiro - prejudicou a minha filha de forma assustadora. Já devia estar perto do escalão máximo - leva 30 anos de ensino - e ainda está no 6º escalão, ao mesmo tempo que muitas colegas dela de faculdade já estão no 9º escalão (situação gerida com cunhas).
Mas isso agora pouco interessa, o mal está feito e nunca será reparado, vamos soprar as velas, comer o bolo e desejar à menina as maiores felicidades! E que Deus a ajude já que eu não tenho esse poder!